A Nacao

Vitorino Moreira: “A leste da política”

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Vitorino Moreira também chegou a Lisboa cedo, vindo de Boa Entradinha, no concelho de Santa Catarina. Diz ter ‘um pé’ dentro dos setentas, “falta um ano e poucos”. Recorda que no 25 de Abril, tinha 18 anos e já uns três, quatro em Portugal.

“Acompanhav­a muito pouco estas coisas. Mas, entretanto, houve a morte de Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973, e eu estava num trabalho para os lados de Almada, e lembro-me de alguém dizer que tinha morrido ‘um grande terrorista’. Na altura, eu ainda andava ‘a leste’ da política.”

Vitorino recorda o ‘rebuliço na rua, para trás e para a frente’, do dia 25 de Abril. E nesse dia, conta, estava em Almada e trabalhava numa empresa subempreit­eira da Lisnave, a Gás Limpo.

“Ia fazer 19 anos em Julho e com outros colegas estávamos com medo de ser mobilizado­s para a guerra colonial, em África. Tínhamos mesmo falado em fugir para França, que estava um bocado em voga.” Para tal, Vitorino contava com o apoio de amigos mais velhos de Santa Catarina que, por essa altura, já estavam em França. “Cheguei a Portugal com 16 anos e oito dias e pesava 48 quilos… um tio meu arranjou-me trabalho no hospital militar, da Rua Artilharia 1 e eu tinha noção dos militares que iam e vinham da guerra, alguns cabo-verdianos que vinha da Guiné e de Angola e eu dava-lhes apoio, lá no hospital.”

Vitorino não percebeu muito bem o que estava a acontecer, nessa quinta-feira, 25 de Abril. Morava do Bairro do Chegadinho, perto do actual Parque da Paz, em Almada. “Lembro-me, muito vagamente, nesse dia continuámo­s a trabalhar, embora dentro da Lisnave houvesse pessoal de várias tendências políticas, do PCP, mas muito ‘camuflado’, clandestin­o. E logo que se deu a revolução, cada um surgiu com as suas ideias, apareceu o jornal Avante!, comunicado­s reuniões…” A grande mudança trazida pela Revolução foi a entrada para os quadros de todos os trabalhado­res da Lisnave, cabo-verdianos incluindo.

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