Francisco Lopes: “Nós éramos os maçaricos...”
Natural de São Nicolau e hoje mais conhecido por Chico professor, foi incorporado no exército português, a 23 de Abril, e entrou na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. A mãe trabalhou na Pensão Dona Maria, na Calçada da Estrela. Viviam em Campo de Ourique desde o início dos anos sessenta.
“Na noite de 23, assistimos às movimentações dos carros de combate. Os M47 estavam na Escola Prática, e apercebemo-nos de que algo se estava a passar. As berliês, os camiões, os unimogs, os tanques, estavam com os motores ligados, durante a noite e isso era sinal de que havia qualquer coisa que não era normal.
Mas nós éramos os ‘maçaricos’… No dia 24, fizemos a formatura normalmente, estávamos no curso de formação de milicianos. E nessa noite, outra vez a mesma preparação, vi que os tanques iam sair. Na madrugada de 25, à 1 hora da manhã, fomos todos acordados, mandaram-nos fazer o passaporte, que dava a dispensa do fim de semana, que normalmente era só ao fim da tarde de sexta-feira. Estávamos numa quinta-feira. Indicaram-nos de que podíamos sair e que íamos com o passaporte de uma semana em casa, isto é, dispensados durante uma semana.”
Francisco chegou a Lisboa, como recorda, às 6h30 da manhã, “já sabendo que o movimento dos capitães estava em andamento.” Pelo caminho, depois de deixarem Santarém, passaram pelos tanques, carros de combate, camiões e unimogs, repletos de soldados. “Quando entrámos no Largo do Rato, tive a sensação de que o mundo estava de pernas para o ar…” Conta, emocionado: “abraçámo-nos, os cinco recrutas que vínhamos no carro, primeiro porque já não íamos para a guerra.
Viemos para as nossas casas, vestidos à civil e já estavam a anunciar na rádio para que as pessoas não saíssem à rua. Então, fardei-me, a cheirar a naftalina, saí e senti o orgulho por também fazer parte daquilo que estava a acontecer. A minha mãe não queria que eu saísse, para ir à Baixa. Mas, eu disse-lhe, ‘mãe, eu conheço o capitão e as pessoas que lá estão. E à tarde, eu estava no Largo do Carmo a assistir aos acontecimentos”.