Vicência Delgado
(professora reformada)
“Lembro-me que na minha turma, no Liceu, em Chã de Cemitério, estávamos todos na sala a preparar para a aula quando apareceu um colega a dizer para sairmos porque não haveria mais aulas naquele dia”, recorda Vicência Delgado, hoje, professora reformada.
Era, para esta depoente, o 25 de Abril. E de seguida a sucessão de acontecimentos que foram tendo lugar em São Vicente e em Cabo Verde, mexendo com tudo e todos. Um dia, em pleno segundo trimestre, recorda Vicência Delgado, “os alunos são avisados que todos tinham passado de ano lectivo”.
E como o pai era subchefe de polícia, numa dada ocasião, chegou a ordenar que ninguém podia sair de casa. “Começámos a ouvir fortes explosões e tiros que vinham da Ribeira Bote. A nossa casa situava-se no largo Tarrafal, perto da Ribeira Bote, que ficou conhecida como Zona Libertada”.
E, porque a vida não parou, os acontecimentos foram se sucedendo também... Em Novembro de 1974, Vicência Delgado foi colocada como professora em Santo Antão e lembra-se de ter integrado um grupo de jovens que nessa ilha haveria de preparar a recepção de Aristides Pereira, secretário-geral do PAIGC, partido que haveria de assumir a governação de Cabo Verde, em Julho de 1975.
Num tempo em que tudo era difícil, não havia sequer uma residencial para receber, condignamente, entidades oficiais. E lá se improvisou um lugar onde o futuro presidente do país acabou hospedado.
“Era tudo muito difícil e complicado. Mesmo assim, queríamos ter nas nossas mãos os destinos da nossa terra. O 25 de Abril foi vivido com uma enorme satisfação e esperança num futuro melhor para os cabo-verdianos, porque abriu a porta para a independência do nosso país”, conclui Vicência Delgado, no meio de várias outras memórias.