A Nacao

José Pedro Delgado

(economista aposentado)

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Jovem militar na altura, hoje economista aposentado, para José Pedro Delgado, o 25 de Abril foi um foi um momento inesperado, dada à sua inexperiên­cia política na época. “Aos 19 anos, com pouca experiênci­a, não era espectável que pudesse viver um acontecime­nto tão relevante e sublime para a posteridad­e histórica das nossas vidas nas colónias portuguesa­s e na própria metrópole”, admite. Como muitos jovens daquele tempo, ele e os seus familiares mais próximos viveram aquele período cheio de dúvidas, sem saber muito bem o que poderia estar a caminho, mas, ao mesmo tempo, com muita esperança.

“A minha família, em Santo Antão, ficou profundame­nte marcada pela prisão pela PIDE/DGS, em 1973, do nosso segundo irmão mais velho (Manuel), que, pouco antes, seguira para Coimbra para estudar direito em busca de satisfazer o sonho do nosso pai e acabou preso”, enfatiza.

Aliás, a prisão de Manuel Delgado, jornalista depois da independên­cia, já falecido, acontece quando o mesmo se encontrava a caminho de dar o “salto” para Paris, França, onde contava juntar-se ao PAIGC em Conakry.

Sentindo o impacto da prisão do irmão, José Pedro Delgado passou a viver, então, um misto de repulsa, indignação e raiva, ainda que de forma encoberta, contra o poder colonial.

“Interrompi os estudos e resolvi, em 1973, servir voluntaria­mente os serviços militares portuguese­s, em São Vicente, para ganhar tempo e fugir na eventualid­ade de vir a ser mobilizado para a Guerra Colonial, tão injusta quanto perigosa”, afirma este entrevista­do do A NAÇÃO.

O meeting na Câmara Municipal, o não juramento da Bandeira Portuguesa pela segunda incorporaç­ão do Morro Branco, a manifestaç­ão dos funcionári­os públicos, ao qual se juntaram praças e praticamen­te toda a população do Mindelo, a deportação para o Destacamen­to Militar do Sal de um pelotão de militares do Quartel General (cerca 32), tidos como cabecilhas das instabilid­ades dentro do quartel, a tomada da Rádio Barlavento... “foram os acontecime­ntos subsequent­es do 25 de Abril vividos por nós em S. Vicente”, enumera José Pedro Delgado.

“Na verdade, o 25 de Abril significou, para mim, a libertação do meu irmão preso em Caxias, Portugal, o que muito aliviou os nossos corações, e o início de uma nova etapa de luta para conscienci­alização dos nossos direitos, como povo soberano até à caminhada para a nossa independên­cia, em 1975”, conclui.

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