Encontramos um René Descartes das tecnologias em Gorongosa
O seu apelido é Muala. Com apenas 16 anos, tem duas plataformas digitais promissoras em desenvolvimento, que quer que sejam o futuro das transferências de ficheiros e arrumação de documentos.
Com certeza, já ouviu falar de Share-it, X-share e outras plataformas de partilha de ficheiros, através de redes wi-fi ou internet, de telefone para telefone ou de telefone para computador e vice-versa.
Hoje, vamos apresentar uma solução tecnológica que tem as mesmas funcionalidades e um diferencial fundamental; é made in Mozambique. Para encontrar o seu criador, viajámos mais de 1100 quilómetros de Maputo até Gorongosa. Claro, por via da tecnologia que reduziu o tempo de pelo menos 14 horas de carro, para algumas fracções de segundos.
O nome da plataforma é Keeft e tem capacidade de enviar 2GB de um computador para outro em poucos segundos. O seu dono pensou e, logo, existiu, não é por acaso que o seu nome é René Descartes, como o clássico da Filosofia.
“Eu pensei nessa plataforma, porque sempre tive necessidade de partilhar ficheiros de um computador para o outro ou de um computador para o celular e viceversa”, esclareceu.
O aplicativo, criado por René Descartes Domingos Muala para eliminar uma dificuldade diária, tem versões para computador e celular.
“Eu registei a plataforma como código aberto. Qualquer desenvolvedor pode pegar nela e fazer as alterações que quiser, para usá -la de forma mais cómoda para si. Para quem tem computador, basta baixar o aplicativo no site GitHub.com/renemuala/keeft.git, já pode usar, colocando comandos simples. Quem usa celular deverá baixar, também, o tremux para usar o aplicativo”, disse.
Uma vez que isso é complicado para um povo tão leigo em tecnologia como o moçambicano, René já prepara versões mais simples e acessíveis nas lojas como Play
Store e o App Store. “Não vou demorar. Terei a ajuda de alguns amigos”, garantiu.
Mas, o que torna o Keeft uma ferramenta capaz de competir com as que já existem no mercado digital?
“É a sua independência. Quando o ficheiro é muito grande, o usuário pode decidir quantos megabytes quer enviar de cada vez. Assim, eliminam-se as limitações no que toca ao tamanho de ficheiros possíveis de enviar”, respondeu Muala.
Outra aplicação que René Descartes moçambicano e das tecnologias pensou e logo existiu é o Landb, uma biblioteca digital que tem por objectivo eliminar os milhares de papéis usados nas escolas e nas demais instituições.
“É mais uma aplicação que pensei na escola onde fiz o ensino secundário, a Escola Secundária Eduardo Mondlane (de Gorongosa).
Eu via os professores a andarem com flashes de um lado para o outro, transferindo ficheiros. Notei que o processo era demorado e havia risco de passar o vírus e criei esta solução”, disse.
Esta criação, do programador de 16 anos, não tem, ainda, uma interface e, por enquanto, só pode ser usada por programadores. Entretanto, o adolescente trabalha para que o Landb seja oficialmente usado em instituições que devem gerir grandes quantidades de informações como escolas.
“As escolas levam muito tempo atrás de processos, mas, com o Landb, o computador trabalha no lugar deles”, avança Muala.
Enquanto a sua escola e outras instituições de cá não aproveitam, a tecnologia do adolescente é usada fora de portas.
“Tenho um amigo brasileiro que copiou a plataforma e está a usar no Brasil e diz que gosta muito. É o único que está a usar e deu o feedback até aqui. Muita gente pode estar a usar e não dar feedback, porque esta é, também, uma plataforma de código aberto. Mas, não há risco de ela ser roubada”, explicou.
Como o Keeft, o Landb está, igualmente, a ser preparado para estar disponível numa versão de fácil acesso. São soluções tecnológicas criadas em Gorongosa, província central de Sofala e que prometem tomar o mundo.
“As aplicações ainda não têm interface. Entretanto, podem ser usadas por quem entende de programação e, brevemente, estarão disponíveis em lojas digitais como o Play Store e App Store em versões mais acessíveis”.