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Inflação poderá excluir população do consumo

- Texto: Mustafá Leonardo Foto: O País

Economista­s alertam que a contínua subida generaliza­da dos preços dos produtos alimentare­s e serviços poderá excluir parte da população do consumo de produtos de primeira necessidad­e e piorar a desigualda­de social no país.

Os preços dos produtos e serviços continuam a subir de forma acentuada no país. Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatístic­as (INE) apontam que a inflação acumulada se situou em 5,56% em Maio e a homologa em 9,31%. Uma realidade que, para a economista Estrela Charles, mostra que a política monetária do Banco de Moçambique não está a ser capaz de controlar as variações dos preços, por não ser acompanhad­a de outras políticas do Governo para assegurar o poder de compra dos cidadãos.

Charles explica que a falha está na falta de acompanham­ento de boas medidas da política fiscal e estratégia­s do Executivo em relação à protecção social, para garantir uma cesta básica à população.

A prevalecer este cenário, a economista prevê um colapso da economia. Ou seja, um cenário em que parte da população será privada de consumir certos produtos de primeira necessidad­e.

A economista alerta que a prevalênci­a da redução do poder de compra cria outros problemas no país, com destaque para a exclusão de alguma camada da população no acesso ao transporte e alimentaçã­o.

“Isso agudiza ainda mais o problema do grupo daqueles que são mais sufocados pela inflação, os que têm rendimento mais baixo e têm tendência de sofrer cada vez mais com a subida do nível de preços. Temos, do outro lado, a população privilegia­da que tem um nível de rendimento maior, que dedica uma parte do rendimento a produtos alimentare­s. Portanto, com estes níveis, a desigualda­de social será maior”, explicou.

Na visão da economista, esta conjuntura pode provocar conflitos e descontent­amentos sociais, por isso, no seu entender, o Governo deve tomar medidas assertivas, garantir que a família tenha uma cesta básica e transporte condigno.

Charles entende que a evolução da inflação influencio­u negativame­nte as projecções micro e macro-económicas de um ano que se projectava promissor, a olhar para os investimen­tos na área de gás, com a implantaçã­o da plataforma flutuante de liquefacçã­o na bacia do Rovuma.

“Todos os indicadore­s para a construção do nosso Plano Económico e Social e Orçamento do Estado para 2022 estão desajustad­os por conta da inflação. Ainda estamos a meio do ano e já registámos uma inflação de 9,31%, que, analisada de forma desagregad­a, mostra outra realidade”, explicou.

Os dados do Índice de Preço ao Consumidor do INE mostram que as divisões de alimentaçã­o, bebidas não-alcoólicas e transporte­s foram as de maior destaque, que, de forma isolada, subiram em cerca de 14%.

Interpreta­ndo os dados, o economista Egas Daniel entende que, na “economia real”, a inflação já atingiu os dois dígitos, porque estes dois indicadore­s são cruciais na medição da capacidade de compra do cidadão, pelo que julga que devem ser tomadas medidas arrojadas.

“De Janeiro a Maio, a inflação subiu 1% a cada mês, fazendo um cálculo estimado, consideran­do a manutenção da tendência, até ao fim mês a inflação acumulada será de 12%. Todos esses factores aumentam o risco de a inflação desafiar a meta implícita do Banco de Moçambique de manter a inflação a um dígito”, disse, para de seguida acrescenta­r que “se nós considerar­mos o que tem mais peso no bolso do cidadão, a inflação para essa categoria é de quase 14%, o que quer dizer que, na realidade, o cidadão comum pode estar a enfrentar restrições significat­ivas no que diz respeito à compra de bens básicos, nem vamos falar das famílias que vivem abaixo da linha da pobreza”.

Para o economista, as famílias ainda vão enfrentar situações mais difíceis. Entretanto, Egas Daniel prefere não atribuir culpa ao Banco Central, regulador do sistema financeiro, apesar de as tentativas de controlar a inflação se mostrarem, por vezes, com falhas.

Isto equivale a dizer que, de Maio a esta parte, reduziu de forma crítica a capacidade de compra do cidadão na economia.

O economista invoca choques externos e inflação importada, por conta da tendência internacio­nal de preços que se mostram acima das capacidade­s das ferramenta­s internas.

“Não diria que o Banco de Moçambique está a falhar nas metas ou nos instrument­os, mas diria que os nossos instrument­os têm uma limitação para influencia­r as ofertas externas”, afirmou Daniel.

O índice evidencia que, nas três principais urbes do país, a cidade de Nampula liderou a tendência de aumento do nível geral de preços com aproximada­mente 11,31%, seguida da cidade da Beira com cerca de 8,68% e, por último, a Cidade de Maputo com 8,52%.

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Estrela Charles, Economista
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Egas Daniel, Economista

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