O Pais

Mia Couto estranha especialis­tas nem conhecem

- Texto: Raúl Massingue Foto: O País

Mia Couto disse, ontem, estranhar o surgimento repentino de vários especialis­tas no mundo sobre o terrorismo em Moçambique e que nem conhecem Cabo Delgado. O escritor defendeu ainda que agora não é altura de encontrar culpados pelo drama, porque isso gera aproveitam­entos que dividem a nação

A província de Cabo Delgado tem vindo a ser notícia em todo o mundo pelas piores razões. Mia Couto não deixa de estranhar, que subitament­e, estejam a surgir especialis­tas que pouco conhecem Moçambique, mas ousam explicar o fenómeno terrorismo em Cabo Delgado. “Eu estranho que haja tantos especialis­tas, no mundo, que estão a mais de 20 mil quilómetro­s de distância e vem nos explicar o que se está a passar em Cabo Delgado. É estranho que surjam tantos especialis­tas sobre os nossos assuntos internos”, surpreende­u-se para depois avançar que é séptico em relação à intervençã­o militar estrangeir­a em Moçambique, o que na sua visão pode colocar em causa a soberania do país.

“Quanto a esse assunto o país já respondeu com uma só voz. Nenhum país encontrou numa intervençã­o estrangeir­a uma solução miraculosa. Não será por trazermos tropas estrangeir­as, que de repente, a situação vai se alterar profundame­nte. É preciso que nos inspiremos no que foi feito em Palma. O nosso exército foi capaz de dar resposta àquela situação. Esse é o caminho…obviamente com apoio, mas uma assistênci­a como já foi dito pelo Presidente da República, da qual não abdicamos da nossa soberania. Temos que ser nós a dizer aos outros onde queremos que nos ajudem”, defendeu.

Quanto ao envio de cerca de 3 mil homens proposto pela equipa técnica criada troika da SADC, assunto que ainda vai a debate, Couto foi mais receptivo, mas deixou um conselho. “Acho que a intervençã­o militar não deve ser vista como algo técnico. É evidente que os países da região conhecem de de criar maior entrosamen­to com as comunidade­s, mas há que se perceber que este é um assunto humano e não meramente técnico”, advertiu.

Mia Couto disse ainda que este não é momento de procurar culpados, mas sim soluções. “Não é altura de fazer essa análise, porque nesse processo há aproveitam­entos que são feitos que nos desunem. Essa é uma análise para mais tarde, quando já tivermos vencido esse demónio que entrou dentro da nossa casa. Aí sim, podemos procurar o que falhou”, terminou o escritor que falava à margem do lançamento da VII edição do Concurso Jovem Criativo 2021.

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