Jamisse Taimo diz que a exclusão faz parte da agenda do desenvolvimento nacional
Durante a sua participação no programa “Grande Entrevista”, moderado pela apresentadora e directora de Informação do Grupo SOICO, o pedagogo Jamisse Taimo defendeu que o modelo da economia liberal reforça o de exclusão ainda patente no país.
Qual foi o caminho que Moçambique percorreu para construir o modelo de educação ou subsistema de ensino geral e ensino superior?
Primeiro, gostaria de fazer referência a um grande acontecimento mundial que é o Centenário Brasileiro Paulo Freire, que precisamente, no dia 19, completaria 100 anos de existência. Por que desta homenagem? É por ser um dos grandes pensadores da área da educação dentro da era moderna e precisamente sobre os modelos de educação que muitos países do terceiro mundo e não só acabaram assumindo até então. Paulo Freire foi um marco importante, mas, como não é só do Paulo Freire que vamos falar, voltamos então a pergunta. Quais foram os marcos?
Primeiro, nós viemos de um projeto colonial, de um projecto de educação que dividia os moçambicanos em categorias entre os indígenas e os assimilados, assim como os colonos. Este modelo de educação obedecia a esta divisão e, com a emergência da independência em 1975, o partido no poder optou por um novo modelo de desenvolvimento do país, para trazer aquilo que chamamos de uma “sociedade nova, um homem novo”, e que este homem não tinha hábitos coloniais. Assim, era necessário introduzir conteúdos educacionais que fossem de acordo com este projecto de educação. Depois disto, na terceira fase, nós encontramos a liberalização económica do país, porque o modelo pós-independência de desenvolvimento económico estava baseado numa economia central gência da Constituição de 1990, temos aquilo que chamamos de “Reforma do Estado” com a introdução de economia do mercado. Este modelo de desenvolvimento trouxe também o de educação. Este modelo consistiu em formar o homem e a mulher dentro de uma postura de concorrência. Então, o modelo de desenvolvimento e educacional permitiu que Moçambique pudesse dar este salto para a nova realidade.
Estes três momentos devem ser vistos de forma distinta, mas de uma ou e de outra maneira, entrelaçam-se entre si, porque, os conteúdos que foram veiculados no tempo colonial, perpassam para a pós-independência no processo de construção do socialismo e também o projecto de socialismo perpassa até hoje, na medida em que sempre olhamos para ela como um modelo que podia ter trazido novas maneiras de pensar na educação.
Qual destes modelos de educação teve como objectivo a educação como um pilar para a construção da nação? Sem dúvida, é precisamente o segundo sobre a construção da nação moçambicana como projecto. É precisamente a educação baseada na construção de um homem novo, construção de uma sociedade nova que é uma visão socialista do Estado.
E as políticas de educação tinham em vista a erradicação da pobreza?
Sem dúvidas, primeiro é que o modelo de educação assumido tinha um princípio de lutar contra a exclusão, porque era um modelo da sociedade. Todos os moçambicanos deviam ter acesso à educação e a tudo que foi negado no tempo da colonização portuguesa.
E essas políticas de educação trouxeram esse resultado de acesso a oportunidades dos moçambicanos?
Do ponto de vista da base do acesso à educação aos moçambicanos, sim trouxe, porque eu lembro muito bem que, em 1975, houve processo de nacionalização das escolas, ou seja, as instituições de ensino passaram a ser do Estado e as pessoas tiveram acesso sem pagamento. Mas, o que acontece é que o processo de educação por si só não impacta na vida das pessoas. O que impacta na vida das pessoas são outras políticas de desenvolvimento e públicas que possam ser o modelo de país que queremos construir. A educação vai contribuir, porque nós não a entendemos como uma panaceia de razões dos problemas da sociedade, mas a educação como parte construtora deste processo de desenvolvimento social.
Essas políticas impactam quando outros aspectos são levados em conta, mas também eu acho que é importante entendermos que, depois da independência, o país ficou mergulhado em guerra, o que condicionou todos os projectos de desenvolvimento.
Quando diz que não é a educação em si que faz parte do processo, está a dizer que não concorda com a tese de que o ensino deve estar ligado à agenda do desenvolvimento nacional?
Eu estou a dizer que a educação, como tal, faz parte da agenda nacional de desenvolvimento, ou seja, as políticas que não tenham o desenvolvimento do país devem também estar alinhadas com um projecto de educação. Quando nós falamos do currículo histórico de economia, queremos que este currículo participe no modelo de desenvolvimento deste país que queremos. Então, tem um papel importante e tem que estar ligado à agenda nacional de desenvolvimento.
Na sua tese de doutoramento, questionava se o ensino superior numa sociedade neoliberal, como Moçambique, estava a reforçar a exclusão social. Hoje, 11 anos depois, que resposta daria a esta questão?
Onze anos depois, eu continuo a dizer “sim”, reforça a exclusão e a economia; o modelo da economia liberal reforça o de exclusão,