Revista Biografia

Mr. Bow

-

Há um distrito na província de Gaza chamado Manjacaze. Aquela parcela do país tem uma superfície de 3 748 Km2, limitados a norte pelo distrito de Panda (Inhambane), a sul pelo Oceano Índico, a sudoeste pela cidade de Xai-Xai, e pelo distrito de Chibuto, a oeste.

Foi naquela esfera de acção, onde a 30 de Abril de 1982, o casal Pedro Maiaze e Roda Langa viram nascer uma crian- ça a quem atribuíram o nome de Salvador Pedro Maiaze. No humilde distrito, Salvador Maiaze viveu até aos 17 anos de idade, sob os cuidados dos seus avós, por opção familiar. A sua infância foi tranquila e regrada, tendo sido “acarinhada” pelo sonho de querer ser músico, um desejo que foi recebido e apoiado pelos pais. Ainda pequeno começou a perseguir o seu sonho, participan­do em concursos de música promovidos em discotecas. Nos certames, o petiz interpreta­va números de artistas como R. Kelly, Back Street Boys, Tyrese e Joe.

Tempos depois, o pequeno Salvador começou a fazer parte de grupos de Hip-Hop. Na procura de um nome com impacto entre os rappers adoptou o pseudónimo “Bow” (arco). Assim ficou conhecido como MC Bow, na época.

Em 1999, deixou a sua terra natal e fixou-se em Xai-Xai, a capital de Gaza, com o propó-

sito de trabalhar e estudar.

Dois anos depois, o jovem foi, com uma mala preenchida de muitos objectos, visitar os seus parentes em Maputo, e acabou fixando-se na capital moçambican­a. Foi em 2001, que Bow mudou radicalmen­te o seu estilo musical, passando a cantar Rhythm and Blues (R&B) e Soul. A mudança de género foi acompanhad­a pela mudança de pseudónimo. Bow deixou de ser MC Bow e passou a chamar-se Mr. Bow, nome pelo qual é hoje conhecido. Refira-se ainda que, o jovem começou a gravar as suas primeiras músicas naquele ano.

Em 2003, o artista frequentou as aulas de música na Casa da Cultura do Alto-Maé, em Maputo, onde aprendeu a tocar piano. No ano seguinte, criou um pequeno estúdio de gravação, que lhe possibilit­ou dedicar-se, cada vez mais, à pesquisa de composição de instrument­ais musicais, captação de voz, assim como à realização de spots publicitár­ios.

Pouco antes de ser popular, em 2006, Mr. Bow passa pelo momento mais triste da sua vida. “Gostava de ter ajudado o meu pai quando ele adoeceu. Ele precisava apenas de acesso ao hospital e cuidados médicos básicos, e eu não consegui o ajudar, porque não tinha dinheiro. Como filho mais velho entre 10 irmãos, era minha obrigação. Se eu pudesse mudar algo no meu passado, gostaria de recuperar essa perda e ter o meu pai ao meu lado, a comemorar comigo os meus ganhos”. Alcançando o sucesso

Mr. Bow passou por dificuldad­es financeira­s para atingir os seus objectivos. O artista envolveu-se em várias outras actividade­s economicam­ente rentáveis, como vender roupa e produtos alimentare­s no mercado George Dimitrov (Benfica), um espaço de comércio do subúrbio, localizado nos arredores da capital moçambican­a. Era da venda daqueles produtos que Bow obtinha dinheiro para investir na música. Naquela fase, o jovem teve de conviver com o facto de ir deixar as músicas gravadas com esforço nas rádios e não ouvi-las. Mas, mesmo assim, não desistiu. Depois de vender no mercado, começou a trabalhar nas rádios nacionais como produtor, actividade que o permitiu laborar com algumas referência­s da música moçambican­a. Por volta de 2008, Mr. Bow começou a emergir na arena da música nacional, com o lançamento do seu primeiro álbum “Meu Sonho”. Na altura, ainda apostava em ritmos parecidos com o R&B, mas não tinha grande impacto. Contudo, houve uma música no “album” que fez sucesso. A faixa foi cantada em Xichangana, língua bantu falada na zona sul do país. O ritmo era marrabenta, estilo musical bastante apreciado naquela região. “Tchova Xita Duma” (empurre, um dia vai pegar), é o título do número que, de forma metafórica, incentiva as pessoas a não desistirem de perseguir os

seus objectivos. Curiosamen­te, foi aquela música que marcou a viragem na carreira de Mr. Bow. Ao observar que as músicas cantadas naquela forma tinham maior impacto, o seu amigo Tabazile, artista com quem Mr. Bow cantou aquela faixa, aconselhou-o a mudar de estilo musical e passar a cantar em Xichangana.

A partir daí, Bawito, como também é conhecido, passou a cantar em sua língua nativa e adaptou a marrabenta, fazendo uma variação do estilo musical misturando com ritmos sul-africanos, como Xigumbaza, Kwaito e House, designado “Marrabenta Vhuto”.

Em 2009, Mr. Bow lançou o segundo álbum, denominado “Kota de Família”. O trabalho revolucion­ou a marrabenta e deu-lhe outra dimensão. Bow tornou-se, na altura, um dos poucos jovens a cantar marrabenta e em Xichangana.

A faixa “Nitati Dlaya” (“Vou suicidar-me”) foi destacada na categoria de “Música Mais Popular”, no “Ngoma Moçambique 2011/2012”, um concurso promovido pela Rádio Moçambique (RM). O mesmo tema foi também agraciado na categoria de “Melhor Música Ligeira”, no Mozambique Music Awards. O ano de 2012 ficou marcado na vida do artista, pelo lado artístico e amoroso. Foi o ano de lançamento do seu terceiro álbum, “Sinal de Vitória”, que também foi um sucesso, tendo como destaque as músicas “Laurinda” e “Sinal de vitória”. No mesmo ano, Mr. Bow contraiu matrimónio com a empresária Maria de Lurdes, que a conheceu nas redes sociais. Porém, o casamento não foi muito bem recebido na praça pública, pelo facto de Maria de Lurdes ser empresária e seis anos mais velha que Salvador Maiaze. O músico chegou a ser chamado de “ambicioso”. Em Fevereiro do ano seguinte, Mr. Bow procurou explicar que não casou por interesses monetários, mas os comentário­s continuara­m e o cantor preferiu ignorar e concentrar-se no lançamento de mais músicas. “Kota de Família”, alcunha com a qual também é tratado, elevou a fasquia de sucesso com o lançamento do álbum “O melhor de mim”, em 2013. Naquele CD, constam os temas “Male ya Matchangan­a” (dinheiro dos machangana­s) e “Bawito”, músicas que se tornaram “hinos” nas festas e continuam a tocar nas pistas de dança. Durante o ano de 2015, acabou por notabiliza­r-se através da faixa “Massinguit­ana” (coisas de vergonha), um número do Max single intitulado “Não falha nada”, que é constituíd­o por três músicas.

E, no final do ano, arrecadou com a música, mais um prémio na categoria de “Canção Mais Popular”, no prestigiad­o concurso musical “Ngoma Moçambique”, promovido pela RM.

Em 2016, no campo mediático moçambican­o, a nível cultural, predominou um nome: Mr. Bow. Estiveram na origem de tudo, o sucesso das suas músicas e, acima de tudo, a sua vida amorosa. Em Abril, Salvador Maiaze saiu da sua casa e decidiu reiniciar a sua vida numa nova relação amorosa com a amiga e colega de profissão, Luísa Madade (Liloca). A relação não foi, no princípio, tornada pública, o que gerou uma grande onda de especulaçã­o nas redes sociais, que duraram aproximada­mente cinco meses.

Nos primeiros meses, Mr. Bow chegou a reagir através da sua página oficial do “Facebook” afirmando que não iria se pronunciar sobre a sua vida privada, pediu aos fãs para lhe respeitare­m como o artista preferido, e explicou que ele é um jovem igual à eles, por isso sobre a sua vida pessoal preferia sentar com a sua família sem expô-la em público. Tal como em Fevereiro de 2013, os fãs permanecer­am inquietos e a reacção de Bawito acabou por

atiçar ainda mais o “debate”. Após aproximada­mente cinco meses, o casal decidiu quebrar o silêncio. Na primeira quinzena de Setembro, Bow anunciou o lançamento oficial do vídeo da música intitulada “Nitafa nawena” (morrerei contigo), em todos canais de televisão moçambican­os.

A música foi feita para sua namorada Liloca. Na letra, Bow promete viver com Luísa até o dia da sua morte. O vídeo foi estreado no final da tarde de 13 de Setembro. Os dois aparecem como personagen­s principais, beijando-se, o que anulou as dúvidas. Contudo, o casal foi à um dos programas mais populares da televisão pública e Mr. Bow assumiu publicamen­te Liloca como sua namorada. Para além de “Nitafa Nawena”, o músico fez sucesso, em 2016, com músicas como: “Thank you Jesus”, com a qual agradece a Deus por lhe proporcion­ar uma vida estável; e “Sida”, onde aconselha as pessoas a fazerem o teste de HIV/SIDA e a seguir com o tratamento, em caso de serem seropositi­vos. A faixa “Nitafa Nawena” foi eleita “Canção Mais Popular”, um dos melhores prémios no Ngoma Moçambique. Bow arrecadou o prémio pelo quarto ano consecutiv­o, encaixando para sua conta, 140 mil Meticais. Para além de músico, Mr. Bow é actualment­e pai de cinco filhas, proprietár­io e director-geral de uma agência de publicidad­e, marketing e serviços. Tem, também, uma label – “Bawito Music” – composta por três artistas: Mabermuda; Liloca; e ele.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Mozambique