VICTORIA GUERRA
Já a conversa estava arrumada, as fotografias em frente aos bambus dos jardins da Gulbenkian feitas, e Victoria Guerra confessava a sua admiração, desde nova, pelas mulheres atrizes. “Nicole Kidman, Kate Winslet, tantas.” Sem que parecesse premeditado, o tema “feminino” acabou por ser uma espinha dorsal deste encontro. Afinal, foi pela mão de uma mulher, Joana Ribeiro, que Victoria chegou a estas páginas. Conheceram-se nos castings da novela Dancin’ Days, e a atriz, que já trabalhava em televisão há alguns anos, recorda uma boa primeira impressão. “Tal como eu, a Joana não tinha estudado no meio. E apareceu ali, nada deslumbrada, um bocadinho ansiosa até. Lembro-me de que havia umas falas difíceis e ela saiu da sala e voltou. Achei bonita essa noção da responsabilidade.” Entre a segunda novela juntas, Sol de Inverno, e umas interpelações culturais mútuas como “bora ao King ver este filme?”, “Já leste este livro?”, nascia uma amizade sólida. “Ela é muito mais sociável do que eu, que era bastante tímida. Ajudou-me muito a sair da minha zona de conforto”, conta a atriz, de 34 anos. Cresceu no Algarve, filha de pai português e mãe inglesa, estreou-se em televisão na série Morangos com Açúcar, aos 19 anos, quando descobriu a liberdade que a representação trazia. “Estava a estudar Jornalismo, mas abandonei completamente. Acho que este trabalho também tem a ver com alimentar a curiosidade.” Desde então, fez inúmeras novelas, filmes, séries, “cada projeto tem uma coisa que me puxa, pode ser um realizador, um ator, uma personagem”. Guarda boas memórias do filme Cosmos, do polaco Andrzej Zulawski, das gravações de The Wilde Wedding, com John Malkovich, que foi quem na verdade a levou para a rodagem nos Estados Unidos, ou da série 3 Mulheres, em que interpretou o papel de Snu Abecassis. “A possibilidade de trabalhar esse momento do País, sob um olhar feminino, foi incrível. Esse mergulho no universo das personagens, quando são reais, é maravilhoso.
E exige respeito.” Nunca pensou sair de Portugal, até porque o trabalho a tem levado a passar temporadas noutros países. “Já vamos tendo algumas coproduções”, explica. Mas continua a apontar a falta de apoio à cultura. “Somos vistos como subsidiados. Mas os filmes portugueses, goste-se ou não, estão em todos os festivais, fazemos o dinheiro mexer, já para não falar da importância para a cultura do País.” Essa vontade de contar histórias, sobretudo sob o ponto de vista das mulheres, faz com que Victoria e Joana troquem muitas ideias sobre um projeto futuro na realização. Ainda não puseram as mãos na massa, mas Victoria já voltou aos treinos de escrita, ainda sem a forma de um guião. “São histórias sobre o Algarve que as pessoas não conhecem”, revela. Escrever, viajar, ir ao cinema, estar com os amigos, ler, são atividades sempre favoritas. E até as leituras olham para as mulheres. “Gosto de Virginia Woolf, Edith Wharton, Toni Morrison”, entre outras.