FILIPE VARGAS
“Acho que a representação é uma profissão aspiracional. As pessoas conseguem relacionar-se com esta vontade de querer ser ator”, explica Filipe Vargas, no contexto da sua grande mudança de carreira. Para trás ficavam dez anos de publicidade, enquanto copywriter e estratega, para a frente desenhava-se a vida na escola de teatro, as novelas, o cinema, os palcos. “Sempre soube que não queria trabalhar em publicidade o resto da vida. É gira a fase de criar e ter ideias, mas perde-se quando sobes na carreira.” Na altura, pensou em voluntariado ou em turismo, andou pela Índia, mas havia uma “vozinha” na cabeça que lhe dizia para tentar ser ator. “Sempre fui público de teatro. E resolvi tentar uma formação. Passar por uma câmara de descompressão antes do corte definitivo.” Disse na agência onde trabalhava que ia de férias, voou para Madrid, fez testes em duas escolas, passou-os e depois foi só escolher onde entrar. Viveu quatro anos na capital espanhola, “é a minha segunda cidade”, sendo Lisboa a primeira, ex aequo com as Caldas da Rainha, onde nasceu há 51 anos, e só voltou porque foi escolhido para integrar o elenco de Conta-me Como Foi. “Tinha 35 anos, era um bom começo.” Das séries para o cinema e mais tarde para as novelas – “só se fazem bem por instinto, ou então sabes levar aquilo muito bem” – foi neste universo que encontrou Joana Ribeiro. Conheceram-se em Sol de Inverno (2013), representaram um casal amoroso em A Teia (2018), mas nessa altura já faziam parte de um grupo de WhatsApp chamado Ratazanas, uma turma de bons amigos ligados à representação (Victoria Guerra, Inês Castel-Branco, Jessica Athayde, Francisco Botelho, Ricardo Lameiras, entre outros), onde encontram suporte para tudo o que todos fazem, mas também espírito crítico. “Um estudo recente sobre a longevidade mostrou que as relações sociais são a principal razão para se viver até mais tarde. É bom lutar contra o isolamento. E este grupo partilha muito o culto da amizade. E temos diferentes origens, contextos, idades.” Joana é a benjamim, mas os 20 anos que a separam de Filipe Vargas não causam qualquer espécie de condescendência. “Somos companheiros do dia a dia, de cinema, da Gulbenkian”, diz-nos, numa conversa em sua casa, forrada a plantas de interior. Um sítio habitualmente de portas abertas para receber os amigos, conversar, cozinhar, conviver e ver televisão, claro. É também lugar de leituras, muitas, sempre vários livros em simultâneo, de escrita de crónicas para o jornal Setenta e Quatro, de preparação para as personagens que veste. Agora vai filmar uma série de Joaquim Leitão sobre a especulação imobiliária e prepara-se para repor, já em maio, Noite de Reis, com encenação de Ricardo Neves-Neves, uma versão de Shakespeare muito criativa. “É um good time.” Tal como diz quem passa tempo com Filipe.