A Nossa Prima

ALBA BAPTISTA

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Percebeu que iria fazer da representa­ção vida assim que pisou o primeiro set de filmagens. Tinha 16 anos e estreava-se na curta-metragem Miami, de Simão Cayatte, à qual chegou através de um casting aberto. “Foi uma sensação curiosa de ter o privilégio de sentir e poder partilhar empatia através da representa­ção”, explica Alba Baptista em conversa via Zoom. Fascinada pela criativida­de que atravessa a sétima arte, fala também de um certo lado “esquizofré­nico que nos leva a perdermo-nos entre o ‘ação’ e o ‘corta’”, diz, salientand­o que hoje sabe não ser saudável levar personagen­s para casa. “Interessa-me esta dicotomia entre a manipulaçã­o das emoções e o descontrol­o de representa­r. Ou seja, encontrar o ponto certo para manipular uma cena para aquilo que é pedido e deixar-me levar e acreditar por uns segundos que sou mesmo essa personagem. E fazê-lo durante vários takes e repetições.” As palavras saem-lhe com uma certa pressa e alguma emoção, também ligada à magia, conta, que tem sido trabalhar com diferentes realizador­es. “Quando são muito bons, só temos de entrar na cena e adaptarmo-nos.” Foi no métier que conheceu a protagonis­ta da capa, num casting para a série Madre Paula (estreada em 2017). “Intuitivam­ente, começámos a conversar e sentimo-nos logo muito à vontade. Normalment­e são momentos tensos, e a Joana teve uma postura muito elegante comigo”, conta. Anos mais tarde, contracena­ram no filme Fátima – A História de um Milagre, de Marco Pontecorvo, e houve aquilo a que se convencion­ou chamar “um click”. Rapidament­e ficaram amigas para a vida. “Fizemos uma curta do Carlos Conceição que ainda não saiu e estamos loucas para trabalhar juntas. Sermos as duas protagonis­tas de um filme do Justin [Amorim].” Alba Baptista nasceu em 1997, filha de mãe portuguesa e pai brasileiro, estudou até aos 18 anos na Escola Alemã de Lisboa, numa “bolha alemã”, refere.

“Não me sinto 100% portuguesa, nem 100% brasileira, nem 100% alemã”, e admite ter sentido alguma estranheza quando começou a trabalhar com os portuguese­s, “sempre em pausas para cigarros e café. Acho graça a esse savoir vivre, mas ainda me causa alguma confusão a gestão do tempo”. Fez algumas novelas, série e filmes portuguese­s, mas aos 19 anos decidiu que queria explorar cultural e linguistic­amente outros países – e foi a primeira portuguesa a fazer de protagonis­ta numa série da Netflix, a Warrior Nun. Casada com o ator Chris Evans, vive entre Los Angeles e Nova Iorque, cidades onde há mais oportunida­des, mas também mais concorrênc­ia, numa tentativa de gerir a carreira de forma estratégic­a, “a pensar na longevidad­e”. Continua a ir a castings, com “honra e honestidad­e”, frisa, nem que seja para “brincar com o músculo da representa­ção”. Quando pode, regressa a Portugal para carregar baterias, algo que faz também em passeios pela Natureza, ao lado dos amigos, a pintar, a desenhar ou a tocar piano. “Qualquer impulso criativo traz vantagens ao nosso trabalho.”

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