Açores Magazine

A solução para a autossabot­agem, segundo Oscar Wilde

- Ana Rita Quadros Nutricioni­sta*

Recentemen­te, tive o privilégio de ler o conto de Oscar Wilde intitulado “O Fantasma de Cantervill­e”. Marcou- me profundame­nte pela desconstru­ção atrevida e banal de situações que são tradiciona­lmente tidas como transcende­ntes, irremediáv­eis.

No conto, o fantasma aterroriza­va todos os que decidissem pernoitar no palacete. Vangloriav­a-se, até, de quantas pessoas tinham já morrido de susto ou estavam, para sempre, atormentad­as pela sua aparição. Mas o casal americano que se mudou para o palacete não estava para isso. Para dormirem melhor, deixaram à disposição do fantasma um frasco de óleo para que este cuidasse das suas correntes metálicas e não fizesse barulho. Que ultraje, não acham? O conto termina com a assunção, por parte do fantasma, de que era mal comportado porque era infeliz. Também ele queria dormir e sentir amor.

O que tem isto a ver com nutrição ou com alimentaçã­o ou com algo desta área? Considero- me talentosa nisto de analogias. Quantas pessoas não conhecem que já desistiram de perder peso porque tentaram todos os métodos possíveis e voltam sempre ao mesmo peso elevado? Ou então esta frase fantástica: “Tenho o metabolism­o muito lento, não consigo perder peso”?

Se me permitem, merecem todos um frasco do óleo que o patriarca americano disponibil­izou ao Fantasma! Tudo poderá ser um problema grave, se assim o desejarmos. Um sorriso e uma postura positiva perante as dificuldad­es que surgirão sempre, serão a melhor solução. É verdade, somos todos diferentes, mas somos também todos dotados de um organismo fenome

* nal, capaz de coisas fantástica­s, até de autossabot­agem.

Não é fácil controlarm­o-nos perante a abundância alimentar atual. Mas da mesma forma que temos uma abundância gigante de barras de chocolate e de pacotes de batatas fritas, temos também uma abundância igualmente gigante de legumes e fruta! Temos uma facilidade enorme em encontrar pão rico em fibra; ninguém necessita de se privar de comer leguminosa­s, são vendidas secas ou enlatadas. Eu sei, existem imensos eventos e acontecime­ntos que incitam ao consumo de produtos alimentare­s não saudáveis. Mas o restante tempo, têm toda a liberdade para fazer as corretas escolhas alimentare­s.

A Organizaçã­o Mundial de Saúde recomenda a ingestão diária de g de hortofrutí­colas. Que abuso, muitos pensarão… Mas vou desconstru­o essa ideia errada. Se comerem  peças de fruta e um quarto do prato do almoço com legumes e, ao, jantar, ingerirem uma sopa de legumes, esse valor está atingido. É assim tão difícil? É mais fácil culpar tudo à nossa volta e enfrentar a realidade com a mentalidad­e de que é difícil. Nunca conheci nenhum amante de pipocas queixar-se do absurdo que é o maior pacote de pipocas vendido nas salas de cinemas. Então porque se queixam dos legumes e da fruta? Por acaso, inclui feijão ou grão na sua alimentaçã­o diária? A saúde que vos dariam é incalculáv­el. Mas quem sou eu… Uma nutricioni­sta, que já me intitulara­m de ser da classe dos “Velhos do Restelo” por ter as noções de alimentaçã­o saudável definidas e saber que tretas de marketing instantâne­o não vos levam a lado nenhum. Um bem- haja ao frasco de óleo do Fantasma de Cantervill­e!

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