Estudo dendrocronológico do loureiro, uma espécie dominante nos Açores
Como em muitos outros arquipélagos, a floresta primária açoriana, que existia antes da chegada dos povoadores, foi amplamente cortada, tendo sido substituída por floresta secundária, por exemplo de incenso ( Pittosporum undulatum), floresta de produção dominada por criptoméria ( Cryptomeria japonica) e por pastagem.
Existe, no entanto, um elemento de grande importância nas florestas naturais de média altitude nos Açores, Laurus azorica, conhecido vulgarmente como louro, louro-bravo ou loureiro. Trata-se de uma espécie arbórea que pertence à família Laureacea que inclui, por exemplo, o loureiro-vulgar ( Laurus nobilis) que existe na Europa, o vinhático ( Phoebe indica) presente na Macaronésia, e o abacate ( Persea americana) plantado em várias regiões do mundo. Sendo uma das mais importantes componentes da floresta de laurifólia (vulgarmente designada como Laurissilva), desempenha um papel ecológico muito importante. Nas florestas da Macaronésia, as lauráceas contribuem de uma forma bastante representativa para a biodiversidade deste bioma e para a estruturação da floresta laurifólia, como é o caso dos arquipélagos dos Açores, da Madeira e das Canárias. Atualmente, L. azorica não é considerada uma espécie em perigo de extinção, de acordo com os critérios da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), dado que os números populacionais são elevados e a tendência atualmente é estável. Embora a espécie possua uma área restrita de ocupação, não está em declínio. No entanto, fenómenos como a fragmentação da paisagem, uma transformação progressiva do uso do solo e a invasão de exóticas, que se intensificou nos últimos anos, têm contribuído para o seu desaparecimento na paisagem.
O conhecimento sobre as taxas de crescimento das árvores e as relações tamanho-idade, são as bases para o conhecimento da dinâmica populacional e para a avaliação do crescimento das florestas, sendo crucial para uma gestão florestal sustentável. Estes tópicos são estudados por uma disciplina designada como dendrocronologia.
Os estudos dendrocronológicos realizados nos Açores abordaram principalmente espécies exóticas, como o incenso, seguindo uma possível estratégia de valorização da biomassa, e o pinheiro-bravo ( Pinus pinaster), a fim de determinar os fatores limitantes para o crescimento desta espécie nos Açores. Dada a falta de estudos dedicados a outras árvores nativas ou endémicas, e as ameaças que afetam as florestas naturais, a nossa equipa de investigação, constituída por elementos do CIBIOAçores e do IVAR, realizou este estudo de base para contribuir para um incremento no conhecimento sobre a distribuição e dinâmica das florestas, bem como apoiar uma abordagem mais eficaz na sua gestão. Este trabalho fez parte do projeto final de Licenciatura, da recém-licenciada em Biologia pela Universidade do Açores, Bárbara Matos.
Nesse contexto, foram amostradas 1 árvores de L. azorica, resultando em amostras, em povoamentos, representativos de Floresta de Laurus na ilha de São Miguel.
Foi feita a caracterização e descrição anatómica dos anéis de crescimento de L. azorica, a partir da preparação de amostras anatómicas de madeira com mm de diâmetro. A análise anatómica da madeira confirmou a presença de bandas anuais nos anéis de crescimento (figura 1), e uma elevada semelhança estrutural com outras Lauráceas (figura ). Em
Figura 1: A) Amostra radial (discos de madeira) do tronco de Laurus azorica, (AC) anel de crescimento; B) Pormenor dos anéis de crescimento a partir de uma verrumada: lenho inicial (LI) e lenho tardio (LT). (Observação à lupa, escala 1 milímetro).