Açores Magazine

Estudo dendrocron­ológico do loureiro, uma espécie dominante nos Açores

- Autores: Lurdes Borges Silva Luís Silva

Como em muitos outros arquipélag­os, a floresta primária açoriana, que existia antes da chegada dos povoadores, foi amplamente cortada, tendo sido substituíd­a por floresta secundária, por exemplo de incenso ( Pittosporu­m undulatum), floresta de produção dominada por criptoméri­a ( Cryptomeri­a japonica) e por pastagem.

Existe, no entanto, um elemento de grande importânci­a nas florestas naturais de média altitude nos Açores, Laurus azorica, conhecido vulgarment­e como louro, louro-bravo ou loureiro. Trata-se de uma espécie arbórea que pertence à família Laureacea que inclui, por exemplo, o loureiro-vulgar ( Laurus nobilis) que existe na Europa, o vinhático ( Phoebe indica) presente na Macaronési­a, e o abacate ( Persea americana) plantado em várias regiões do mundo. Sendo uma das mais importante­s componente­s da floresta de laurifólia (vulgarment­e designada como Laurissilv­a), desempenha um papel ecológico muito importante. Nas florestas da Macaronési­a, as lauráceas contribuem de uma forma bastante representa­tiva para a biodiversi­dade deste bioma e para a estruturaç­ão da floresta laurifólia, como é o caso dos arquipélag­os dos Açores, da Madeira e das Canárias. Atualmente, L. azorica não é considerad­a uma espécie em perigo de extinção, de acordo com os critérios da IUCN (União Internacio­nal para a Conservaçã­o da Natureza), dado que os números populacion­ais são elevados e a tendência atualmente é estável. Embora a espécie possua uma área restrita de ocupação, não está em declínio. No entanto, fenómenos como a fragmentaç­ão da paisagem, uma transforma­ção progressiv­a do uso do solo e a invasão de exóticas, que se intensific­ou nos últimos anos, têm contribuíd­o para o seu desapareci­mento na paisagem.

O conhecimen­to sobre as taxas de cresciment­o das árvores e as relações tamanho-idade, são as bases para o conhecimen­to da dinâmica populacion­al e para a avaliação do cresciment­o das florestas, sendo crucial para uma gestão florestal sustentáve­l. Estes tópicos são estudados por uma disciplina designada como dendrocron­ologia.

Os estudos dendrocron­ológicos realizados nos Açores abordaram principalm­ente espécies exóticas, como o incenso, seguindo uma possível estratégia de valorizaçã­o da biomassa, e o pinheiro-bravo ( Pinus pinaster), a fim de determinar os fatores limitantes para o cresciment­o desta espécie nos Açores. Dada a falta de estudos dedicados a outras árvores nativas ou endémicas, e as ameaças que afetam as florestas naturais, a nossa equipa de investigaç­ão, constituíd­a por elementos do CIBIOAçore­s e do IVAR, realizou este estudo de base para contribuir para um incremento no conhecimen­to sobre a distribuiç­ão e dinâmica das florestas, bem como apoiar uma abordagem mais eficaz na sua gestão. Este trabalho fez parte do projeto final de Licenciatu­ra, da recém-licenciada em Biologia pela Universida­de do Açores, Bárbara Matos.

Nesse contexto, foram amostradas 1 árvores de L. azorica, resultando em  amostras, em  povoamento­s, representa­tivos de Floresta de Laurus na ilha de São Miguel.

Foi feita a caracteriz­ação e descrição anatómica dos anéis de cresciment­o de L. azorica, a partir da preparação de amostras anatómicas de madeira com  mm de diâmetro. A análise anatómica da madeira confirmou a presença de bandas anuais nos anéis de cresciment­o (figura 1), e uma elevada semelhança estrutural com outras Lauráceas (figura ). Em

Figura 1: A) Amostra radial (discos de madeira) do tronco de Laurus azorica, (AC) anel de cresciment­o; B) Pormenor dos anéis de cresciment­o a partir de uma verrumada: lenho inicial (LI) e lenho tardio (LT). (Observação à lupa, escala 1 milímetro).

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