Activa (Portugal)

O LIVRODA vida de Joana Azevedo

Locutora da Rádio Comercial e do podcast ‘Chaise longue’, não gosta de personagen­s perfeitas, guarda todos os livros e já trabalhou num estúdio histórico.

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“Escolhi o livro ‘DEPOIS A LOUCA SOU EU’ da Tati Bernardi (Tinta-da-china, €15,90). O livro é sobre ansiedade e ela tem uma escrita ansiosa, ou seja, através da escrita nós sentimos esses ataques de pânico. Ela não fala só de ansiedade, põe-nos a sentir isso. Eu também tenho ataques de ansiedade, portanto isso cria uma grande identifica­ção. E ela expõe-se muito, como pessoa. Gosto muito deste tipo de escrita como autoficção, em que se fala da nossa própria vida, exagerando-a, tornando-a mais interessan­te. Gosto muito de personagen­s que falham. Não gosto de heróis limpinhos ou moralistas, que nos tentam impingir lições de vida, gosto de personagen­s imperfeita­s, com as suas lutas, as suas limitações, os seus defeitos. Ninguém se identifica com a perfeição ou com um exemplo de vida. As mulheres que mais me inspiram são as que assumem e expõem as suas imperfeiçõ­es, porque é com essas que mais aprendemos.

Há autores de quem leio tudo, como o Valter Hugo Mãe. E muitas vezes sigo recomendaç­ões de quem respeito. Às vezes entro numa livraria para comprar um livro e saio com cinco… Se já deixei algum a meio? Claro que deixei. Por exemplo, quando começo a ver uma série, vejo até ao fim mesmo que me aborreça. Se um livro me chatear muito, paro. Guardo todos os livros. Aliás, é um problema conjugal. (risos) Mas não consigo livrar-me de nenhum livro, guardo tudo.

Tenho um filho de 11 anos e tento impingir-lhe o meu gosto por ler, mas não está a ser fácil. Ele não adora ler, o que é um desgosto para mim. Sei que é uma geração que tem muito com que se entreter, e ele gosta de comprar livros, mas depois não os lê… Para eles é tudo muito lento, mesmo o cinema. Por exemplo, mostrei-lhe o ‘Karate Kid’ a achar que ele ia adorar, e para ele foi uma seca tremenda… Com os livros de ‘Uma aventura’, idem. E eu penso ‘Como é possível ele não gostar das coisas que eu gostei?’ É um grande desafio para mim, enquanto mãe, aceitar que não vamos ter aquela relação de partilha de livros que achei que ia ter. Mas se calhar precisamos de ser o inverso dos nossos pais para nos tornarmos indivíduos, separados, independen­tes. Sempre fui fascinada pela rádio. Sempre fui tímida e passava tempos infindos no quarto a ouvir rádio. Era uma ouvinte ávida de todas as rádios, participav­a nos passatempo­s todos, cheguei a ganhar viagens. E depois quis saber como era estar do outro lado. Percebi logo que era aquilo que queria fazer. Essa exposição íntima que eu aprecio na escrita também existe na rádio, onde tudo é mais genuíno, menos ensaiado, mais fácil, e não há tantas interferên­cias como na televisão.

Agora, que celebramos o 25 de Abril, gostava de lembrar que a rádio tem uma ligação muito forte com essa data, porque as senhas para a revolução partiram da rádio. Estou numa das rádios ‘históricas’, que era na altura a Rádio Clube Português, e cheguei a fazer emissões no estúdio de onde saiu a senha (hoje já não existe, o que é uma pena). Isso para mim foi muito marcante e muito comovente. Eu não era nascida em 74, mas ouvi muitas histórias da minha família, acho mesmo que foi a data mais importante da nossa História recente.

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