Valdemar Brito As pessoas estão muito agarradas ao preconceito já formado
AFAZER ASUAESTREIACOMO ATOR NANOVELA‘ ALMAE CORAÇÃO’, NAQUAL INTERPRETAUM JOVEM QUETENTASOBREVIVER NUM BAIRRO POBRE, VALDEMAR CONTACOMO FOI ADOTADO POUCO DEPOIS DE NASCER, MAS NÃO ESQUECE AS SUAS RAÍZES CABO- VERDIANAS
AOS 21 ANOS, VALDEMAR BRITO ESTÁ A APROVEITAR AO MÁXIMO a sua primeira experiência televisiva, na novela ‘ Alma e Coração’, em que interpreta Leo, um miúdo rebelde a crescer num bairro problemático ( Cova da Moura).
Com origens em Cabo Verde, sempre viveu em Portugal. Como foi a sua infância?
Fui adotado pouco depois de nascer. Os meus pais viviam em Cabo Verde, com quatro fil hos. Quando a minha mãe soube que estava grávida de mim foi- lhe diagnosticada uma doença grave [ cancro] e os médicos disseram- lhe que não iria sobreviver se continuasse a gravidez. Ela lutou, veio para Portugal fazer tratamentos, e eu acabei por nascer e tudo correu bem. Mas, passado uns tempos, ela morreu. Acabei por ser adotado por um casal amigo dos meus pais, e fiquei a viver com eles cá em Portugal.
Eco moéa relação coma família biológica, mesmoàdistânc ia?
É uma relação boa. Não passamos muito tempo juntos, mas criei uma boa ligação com o meu pai e temos uma relação de confiança. Em relação aos meus irmãos, vamos mantendo o contacto, principalmente com um deles, que é mais ligado às redes sociais e também já fez uma visita a Portugal. E com os seus pais adotivos? Não os vejo de maneira diferente. Foram eles que me educaram e ensinaram tudo o que sei. Por isso, trato- os como se fossem meus pais.
Já foi a Cabo Verde conhecer as suas origens?
Sim, já. Estive lá em 2017, mas fiquei pouco tempo. Gostava de ir lá com mais calma. Aquilo é lindo!
Houve uma al tu ra na sua adolescência em que se envolveu na moda, antes da representação...
Nunca imaginei ser modelo. Aconteceu por influência de uma amiga, que me inscreveu numa agência. Começou a surgir o ‘ bichinho’, decidi inves-
“Lembro- me de gostar de música e de cantar desde sempre”
Uma das paixões que estiveram sempre presentes na vida de Valdemar foi a música. O jovem revela que decidiu apostar na sua voz e criou uma banda com os amigos, mas o seu objetivo é conseguir vingar numa carreira a solo. Concorrer a um concurso de talentos não é uma opção que ignora. “Lembro- me de gostar de música e de cantar desde sempre. Até já estive perto de participar no ‘ Factor X’ [ programa da SIC]”, revela o ator, que é fã de Chris Brown e que acredita que pode vir a conquistar uma oportunidade para demonstrar o seu talento na música.
OS ESCUTEIROS SÃO COMO
UMA FAMÍLIA. APRENDEMOS A TER ESPÍRITO DE EQUIPA. SÓ QUEM VIVE ESSA EXPERIÊNCIA ENTENDE
tir e tive logo sorte. Começou tudo a correr muito bem. Pelo meio, surgiu a oportunidade de representar...
Sim, essa já era uma paixão antiga. Começou a surgir num grupo de escuteiros, ao qual pertenço há 14 anos. Tínhamos atividades de teatro, fazíamos tanto peças cómicas como mais dramáticas. O gosto cresceu e foi sempre ficando.
Mais tarde, surgiu o casting para a novela ‘ Alma e Coração’ na SIC... Como foi? Pratiquei o guião, passei no casting, e depois disseram- me que tinha que ter uma formação, após a qual poucos iam restar. Como a maioria já tinha experiência e eu não, nunca achei que fosse o escolhido. Fiquei muito surpreendido. Foi estranho e engraçado ao mesmo tempo.
E quando descobriu a personagem de Leo, qual foi a reação?
Achei que se tinham enganado [ risos]. O Leo Andrade é um jovem super revoltado e problemático, que anda sempre na má vida, e eu não sou nada assim. Sou calmo e bem comportado. Foi um grande desafio interpretá- lo.
Também foi difícil a integração no elenco?
Isso não. Não estava nada à espera que fosse tão bom. Sou tímido e gosto de estar no meu canto e eles puxaram todos por mim. A Sharam Diniz [ irmã na novela] deu- me logo um abraço quando me conheceu, foi muito querida. A relação foi muito natural. O mesmo aconteceu com a Cleo Malulo [ mãe na novela]. Tornámo- nos todos numa família mesmo na vida real.
NÃO ME IDENTIFICO NADA COM A MINHA PERSONAGEM. SEMPRE FUI UM RAPAZ CALMO E BEM COMPORTADO
E como foram recebidos pelas pessoas do bairro Cova da Moura, onde é filmada a novela?
Admito que, no i nício, achei que eles iam pensar que chegámos ali apenas para realçar a má imagem que já está muito associada ao bairro. Pensei que não iam gostar de mim. Mas enganei- me. Receberam- nos muito bem e agora todos dizem que estão a gostar do meu trabalho. Estou muito satisfeito, tem sido muito positivo.
Sente que tem responsabilidade na forma de retratar aquele bairro?
Acho que estamos a mostrar aos espectadores que não tem de ser tudo mau ali. É como tudo: há pessoas boas e pessoas más. Simplesmente nunca mostram o melhor e as pessoas estão muito agarradas ao preconceito já formado. E o Leo não é uma má pessoa. Faz o que faz porque não vê outra maneira de ajudar a família. Não o faz porque é mau, mas porque acha que tem de ser.
Acho que há muitos jovens que se identificam com ele.
Com o ge re o s e u t e m p o livre?
As grava ções ocu pam- me muito tempo. Não ten ho o tempo que gostaria para ser eu, fora da personagem. Tenho saudades de passar mais tempo com os meus amigos. Mas eles compreendem o meu trabalho e agradeço- lhes muito por isso. Os escuteiros também vão sempre fazer parte da minha vida, mesmo que agora não esteja tão presente.
E m r e l a ç ã o a o p ú b l i c o feminino, tem si do muito elogiado?
Confesso que sim. Sem me querer gabar, a verdade é que tenho recebido muita atenção por parte das raparigas, principalmente nas redes sociais, onde recebo muitas mensagens com elogios.
E com tudo isto, não põe os estudos de lado...
AS PESSOAS ESTÃO MUITO AGARRADAS À MÁ IMAGEM DA COVA DA MOURA. FOMOS BEM RECEBIDOS E ESTOU A GOSTAR DE GRAVAR ALI
Não, nunca me desliguei disso. Tirei gestão desportiva no secundário. Falta a apresentação do trabalho final para concluir. Estou a pensar ir para a faculdade tirar Marketing. Mas penso nisso sem pressas.
Que expectativas tem em relação ao futuro?
Vejo- me a continuar a representar, mas não vivo de expectativas. O que vier, vem. Faço as coisas com calma. Por muito que isto esteja a correr bem agora, tenho consciência de que pode acabar. Se as coisas não correrem de uma forma, correm de outra. Estou preparado para isso.