Correio da Manha - Boa Onda

“É interessan­te fazer parte desta Lisboa”

Cantora cabo- verdiana deixou Paris e vive em Portugal. Novo disco está à oorta porta

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TROCOU PARIS POR LISBOA, VIVEATUALM­ENTE NO INTENDENTE, EATÉJÁ CHAMOUAATE­NÇÃO DE MADONNA. MAYRAANDRA­DE, UMADAS MAIORESVOZ­ES DE CABOVERDE, VOLTOU COM NOVO DISCO,‘ MANGA’

Cinco anos para gravar novo disco. Porquê tanto tempo? Andei dois anos na estrada a fazer concertos, mudei- me para Lisboa, comprei um apartament­o, fiz obras e também precisei de algum tempo para mim, param eambientar­àc idade. Só depoi sé que veio a vontade de começar a escrever de novo. Enfim, tive de respeitar o meu bio ritmo [ risos]. A Mayra já vivia há 11 anos em Paris. O que a levou a mudar para Portugal?

A vontade de sentir- me bem no regresso de um concerto ou de sentir- me feliz quando acordo porque o céu é azul e tem sol [ risos]. A vontade de ter amigos que têm mais tempo uns para os outros. Os últimos anos em Paris foram muito difíceis. Eu já vivia numa relação de dependênci­a. Existe tanta oferta que nós achamos que vamos deixar de existir se sairmos de lá. Já tinha uma relação de amor e ódio com Paris. Está a viver onde?

No Intendente, o melhor bairro de Lisboa.

Um caldeirão cultural!

Pois é! Aqui convivem 25 nacionalid­ades diferentes, acredi- tando no que diz a freguesia de Arroios [ risos]. É muito interessan­te fazer parte desta nova Lisboa, deste novo som e ver como a cidade conserva o que tem de genuíno e ao mesmo tempo consegue abrir- se ao que há de melhor no mundo. Até já chamou a atenção de Madonna, que publicou um vídeo seu!

Não foi a primeira vez que ela me viu cantar. Eu estava no Tejo Bar, onde ela também tem o bom gosto de ir. Naquele dia ela decidiu fazer um post comigo. Isso não foi nada que tivesse mudado a minha vida,

É MUITO INTERESSAN­TE FAZER PARTE DESTA NOVA LISBOA E DESTE NOVO SOM

mas acho que ganhei mais alguns seguidores [ risos].

A Mayra Andrade é daquelas cantoras que anda pelo mundo. É possível fazê- lo sem perder o foco do que são as suas origens?

O cabo- verdiano tem uma capacidade enorme de conservar a sua cultura. Tem uma identidade muito forte. Os filhos da diáspora, filhos de pais ou de avós cabo- verdianos, sentem uma ligação muito forte ao país, alguns sem nunca o terem conhecido. Eu vivi uma infância e uma adolescênc­ia muito bonita em Cabo Verde, mas pelo facto de ter andado por locais muito diferentes, também o vivi muito de fora. E sempre notei isso: é muito difícil perder a identidade caboverdia­na.

Já lá vão quase vinte anos desde que começou a cantar na Praia e no Mindelo. Que memórias guarda? Lembro- me do frio na barriga e de só me vestir de branco. Lembro- me que já levava os ensaios muito a sério e que já era muito exigente. Os traços de personalid­ade que tenho hoje já existiam na altura. Eu já nasci cantora. Não decidi que queria ser artista, eu já nasci a cantar. Essa menina ainda está aqui dentro, embora de há uns anos para cá eu já me sinta mais mãe dessa menina. Ganhei outra maturidade.

Oprime iro single deste novo trabalho chama-se ‘ Afeto’, que é algo que está muito em falta nos dias de hoje. Isto pode ser entendido como um alerta oué mais pessoal do que isso?

[risos] Na ver da deé mais pessoal do que isso,m asa verdadeé que muita gentes e tem identifica­do com esta música. É que nós, cabo- verdianos e os africanos em geral, temos muita dificuldad­e em demonstrar os afetos. Nós somos muito extroverti­dos e gostamos muito de festa mas depois, no que toca ao amor, manifestam­o- lo de outras formas. Não passa tanto por beijinhos e abraços, nem por dizer que “te amo”. E esta música fala disso, da ausência da demonstraç­ão do afeto e nesta coisa de nos reinventar­mos e tentarmos ser sempre melhores.

DO INÍCIO LEMBRO- ME DO FRIO NA BARRIGA E DE VESTIR SEMPRE DE BRANCO

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