“JÁ SOU METADE PORTUGUÊS”
MISHLAWI LANÇA, DIA 8, O SEU PRIMEIRO DISCO, ‘ SOLITAIRE’
Comoé que um americano nascido no Arizona acaba a fazer rapem Cascais?
Na verdade eu nasci em Nova Jérsia e só depois é que me mudei para o Arizona. Foi lá que cresci. Viajei muito em criança por motivos profissionais do meu pai. Aos 8 anos, por exemplo, mudei- me para Itália, onde fiquei até aos dez. Foi nessa altura que viajei então para Portugal.
Mas porquê Portugal? Portugal era onde estava situada a empresa onde o meu pai trabalhava na altura. Foi uma oportunidade e os meus pais acabaram por se apaixonar pelo país e ficar.
Tarik Mishlawi, nome de batismo, não é propriamente um nome tipicamente americano. Que história está por detrás dele?
Bem, para começar, nos EUA toda a gente é emigrante de algum lado [ risos]. Neste caso, os meus pais foram os primeiros da sua família a viajarem para o sEU A.Om eu paié libanês eaminh amã eé turca. Eles conheceram- se quando o meu pai veio para a universidade. Mas descobriu o hip- hop ainda nos EUA ou já em Cascais?
Foi nos EUA. Na verdade, a minha mãe era uma grande fã de hip-hoper&b.Om eu pai também estava ligadoà música. Tocou durante muitos anos numa banda, ainda que nunca o tivesse feito de forma profissional. Acho que aprendi muito com ele.
Mas vivendo em Portugal, que relação tem com a música portuguesa?
Estou mais ligadoà música moderna que se faz em Portugal do que à música mais antiga. O que está para trás de 2007 não conheço bem. Claro que sei queméo Rui Veloso e os Xutos & Pontapés, mas eu ouço sobretudo artistas da minha área.
E neste momento é mais americano ou português? Eu acho que sou metade americano e metade português. Neste momento, por exemplo, estamos a fazer esta entrevista em inglês porque é mais fácil para mim expressar- me, mas ao mesmo tempo eu sou um cidadão português. Hoje, os meus amigos são todos portugueses.
Mas o que é que acha que já tem de Portugal em si?
Não sei ao certo. Com o tempo fui- me expondo cada vez mais à cultura portuguesa e acho que há algumas coisas que cresceram em mim. A verdade é que quando regresso aos EUA já não me sinto tão confortável como me sentia. É estranho.
O Mishlawi começou a carreira em 2016 com o single ‘ All Night’. Como foi?
Foi muito interessante porque foi a primeira música que fiz que obteve uma reação das pessoas. Graças a ela comecei a fazer espetáculos e a ter fãs. Foi aí que tudo começou, até
QUANDO VOLTO AOS EUA JÁ NÃO ME SINTO TÃO CONFORTÁVEL COMO ME SENTIA
fora de Portugal. Começámos a fazer uns espetáculos na Rússia e agora temos de lá ir todos os anos. Transformei- me quase num fenómeno e isso também me possibilitou assinar o meu primeiro contrato.
E chega a este momento, em que lança o primeiro disco, ‘ Solitaire’. É assim que se sente: um músico só?
Esse tít u l o tem mais a ver com a ideia de que a indústria da música é uma espécie de jogo que temos que jogar sozinhos. É uma coisa muito solitária, exatamente como o famoso jogo de cartas. Ninguém joga por nós nem nos tenta ajudar a ganhar. Eu sinto- me um bocadinho assim. Fazer hip- hop em inglês em Portugal é estar um bocadinho por conta própria.
DE UMA FORMA GERAL ESCREVO MUITO SOBRE O AMOR. É UMA TEMÁTICA MUITO USADA NO R& B
S o b r e o q u e e s c r e v e o Mishlawi?
Eu não penso muito sobre aquilo que escrevo. Geralmente tem a ver com momentos e com aquilo que eu sinto em determinada altura. Para este disco, curiosamente, escrevi mais sobre coisas pessoais do que alguma vez o tinha feito. Quando lançava singles nunca ia tão fundo. Mas, de uma maneira geral, eu escrevo muito sobre o amor porque gosto muito de r& b, e o amor é uma temática muito abordada no r& b.
Vai estrear- se no Coliseu de Lisboa depois de ter passad a p o r v á r i o s f e s t i va i s . Como é que sente o público em relação à sua música ? Tem sido fantástico. Portugal tem uma enorme cultura de espetáculos e isso permite- nos fazer grandes digressões num pais pequeno. Aqui sinto- me sempre muito bem recebido.