Correio da Manha - Boa Onda

A GRATIDÃO DEVIDA À PÓVOA, ONDE NÃO ME APRESENTEI

AMINHAVAID­ADETEVE UMALTÍSSIM­O MOMENTO COM AAPRESENTA­ÇÃO DO LIVROATANT­OS LITERATOS

- TEXTO ESCRITO COM A ANTIGA GRAFIA

O DR. PEREIRA COUTINHO AVISOU- ME COM ANTECEDÊNC­IA de que iria haver lançamento do meu livro na Póvoa de Varzim, durante as Correntes d’Escrita. Já me não recordo da última vez que fui à Póvoa, e creio que não foi para ver a estátua de Eça, nem para recordar uma passagem de Ramalho Ortigão ( naquele livrinho, ‘ Praias de Portugal’ que em tempos fez as delícias do Tio Alberto, o bibliógraf­o e gastrónomo de São Pedro de Arcos, que sublinhava a vermelho todos os deslizes do escritor), nem sequer para evocar as várias pernoitas de Camilo, frequentad­or do Café Chinez.

De modo que a minha vaidade teve um altíssimo momento no fim de semana passado, quando ‘ O Crepúsculo em Moledo’ foi apresentad­o a tantos literatos, leitores e frequentad­ores das Correntes d’Escrita – a quem agradeço o gesto e o perdão por não ter me ter sentado naquelas cadeiras tão repletas de literatura e intelectua­lidade.

A Dra. Manuela Ribeiro, da Câmara da Póvoa, insistiu por telefone: que iriam alguns amigos, que mandariam um carro buscar- me e devolver- me a Moledo, que me segurariam a bengala da idade – e da vaidade. Expliquei-lhe que, como tempo, às atribulaçõ­es das coronárias se juntou uma leve misantropi­a geográfica quem e impede de atravessar em segurança para lá ( para Sul) da foz do Neiva, o que ainda abrange Âncora, Ponte de Lima, Ponte da Barca, os Arcos, Viana e o farol de Montedor – mas que não chega para me levar mais além. Reduzido a este território e a este mapa ( entre Melgaço, a foz do Minho, a foz do Neiva e as colinas dos Arcos e Ponte da Barca, o que compõe um polígono estratégic­o cujo centro é Moledo), assisti à chegada temporã da Primavera numa das esplanadas diante do areal e do forte da Ínsua. Nestas ocasiões confundo o sopro do sargaço com um sopro de vida; é um perfume que vem com o ar do mar revolto e não se consegue falar da sua beleza feita de cor, temperatur­a, ventania e saudade.

O Dr. Manuel Valente veio também fazer- me companhia. Sentámo- nos à mesa do café como dois confidente­s que não têm nada a confidenci­ar, mas que se rendem à rara beleza deste quadro: as pessoas que passam, o sol que demora um pouco mais, a literatura que poderia ter sido feita – e que, para nossa felicidade, não se fez. É esta felicidade ligeira que nos consola de vez em quando: podermos ter sido outra coisa e, felizmente, sermos aquilo que fomos.

ASSISTI À CHEGADA TEMPORÃ DA PRIMAVERA NUMA DAS ESPLANADAS DIANTE DO AREAL E DO FORTE DA ÍNSUA

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