Ele é a alma de ‘ Alguém Perdeu’
AOS 13 ANOS TEVE UMAEPIFANIA: PERCEBEU QUE O QUE MAIS QUERIA N AVIDA ERA ESCREVER NOVELAS. AOS 45, É UM DOS AUTORES MAIS CELEBRADOS DAFICÇÃO NACIONAL. ACONVITE DACMTV, ESCREVEU A PRIMEIRA NOVELADO CANAL, E AVISA O ESPECTADOR: VAI HAVER EMOÇÃO E VERDADE SE
Na semana da estreia da primeira novela da CMTV falámos com o autor
ANTÓNIO B ARRE IRAÉO MAIS CELEBRADO DOS AUTORES DE NOVELAS NACIONAIS. Já ganhou um Emmy ( com ‘ Meu Amor’) e esteve nomeado para outro (com‘Re médio Santo’ ).Éo autor de ‘ Alguém Perdeu’, a novela que a CMTV estreia nesta semana.
Poucas pessoas sabiam, mas deixou a Plural, na qual trabalhou durante 15 anos e assinou 12 novelas, para escrever a primeira novela da CMTV. O meu contrato estava a chegar ao fim, havia até o convite para o renovar, mas surgiu este desafio incrível: a possibilidade de inaugurar a linha de ficção de um novo canal. Isso pesou
QUANDO ESTAVA NA FACULDADE, ESCREVI TRÊS RADIONOVELAS. O CM, POR ACASO, DEU DESTAQUE À ESTREIA DE TODAS ELAS
muito, porque eu sou um homem de desafios.
O que lhe foi pedido? Disseram- me que precisavam de uma novela na linha da CMTV. Em quinze dias escrevi a sinopse, tracei o perfil das personagens e tudo o resto. Seguiu para aprovação. Foi aprovada e estreia no dia 18.
Um anovela na linha da CMTV? Foi buscar histórias tratadas pelo canal?
Em concreto, não. Foi mais o estilo. A vertente realista. Por mais que custe, por mais crua que seja a verdade, é preciso enfrentá- la e a CMTV está lá. A novela é, por isso, muito realista, tem temas muito próximos das pessoas e personagens com que o espetador se pode identificar.
A história principal gira em torno de uma criança que morre afogada.
Inspirei- me no caso Aquaparque, que ocorreu há alguns anos. A verdade é que a morte por afogamento é a segunda causa de morte infantil no nosso país. É algo que mexe muito comigo, que também sou pai.
Pode contar um bocadinho da história?
Uma criança é deixada ao cuidado da avó e esta, julgando- a a dormir, vai para a cama com o amante. É nessa altura que a criança se afoga, na piscina. A Anabela Teixeira vai fazer de
avó e a Mafalda Luís de Castro será a mãe da criança. Teve mão na escolha do elenco de ‘ Alguém Perdeu’?
Em Portugal, os autores participam sempre da escolha dos elencos. Não têm a última palavra, porque essa cabe às estações de televisão. Este elenco é ao meu gosto. Dá- se extraordinari amente bem – o que é muito importante para que um projeto corra bem e sem sobressaltos. Conflitos dentro do estúdio é uma grande chatice. Dão- se bem fora do estúdio? Sim, não nos limitamos ao trabalho. Temos um grupo no WhatsApp em que só dizemos parvoíces. Todos os sábados, o Francisco Penim organiza corridas de dez quilómetros em Monsanto. E uma vez por mês fazemos um jantar com toda a gente. Otr aba lhoé muito melhor quandoéfei toco m alegria e espírito de diversão. Fala- se muito da ‘ família CM’. Nós sentimo- nos assim: em família.
Oqueé que o público da CMTV pode esperar desta novela?
Temas que fazem parte do dia a dia mas que, muitas vezes, preferimos fingir que não existem. Prostituição de luxo, consumo de drogas, tráfico, agiotagem, barrigas de aluguer, venda de medicamentos fora de prazo para países subdesenvolvidos, homossexualidade recalcada, alcoolismo, eutanásia… Nesta novela vamos ter todos os temas que estão na ordem do dia. E não esperem finais felizes nem desenlaces cor- de- rosa. Tudo será muito realista.
E a nível da realização? Esperem uma linguagem super dinâmica. As cenas da no- vela são muito curtas e acontece muita coisa em cada episódio. Fomos ao ADN do canal e trouxemo- lo para a novela: vamos ter planos de câmara inusitados, cenários em 360 graus. Ou seja, com as quatro paredes. Podemos mostrar uma sala na totalidade. Uma banda sonora muito boa, com artistas consagrados e novos talentos da música. Quando vi o primeiro episódio até chorei de felicidade.
Como é que um advogado troca a lei pelas novelas? Gosto de Direito, mas não era o meu sonho. Aos 13 anos tive uma espécie de epifania: decidi que ia ser escritor de novelas. Não ator, não realizador, nem romancista ou poeta. Queria escrever novelas. Lembro- me de ter pedido, como presente de aniversário, uma máquina de escrever. Que me foi dada, embora o meu pai quisesse que eu fosse médico. E começou a escrever com essa idade?
Sim. Aos 17 anos gravei uma novela para a disciplina de por-
COSTUMO
DIZER QUE
NUM PROJETO NÃO HÁ EGO INDIVIDUAL DE NINGUÉM. O ÚNICO EGO
É O DO PRÓPRIO PROJETO É PRECISO PRODUZIR UM EPISÓDIO POR DIA. SÃO 45 A 50 PÁGINAS. SETE DIAS POR SEMANA. DEIXAMOS DE TER VIDA
tuguês. Foi mais ou menos nessa altura que mandei o meu primeiro projeto de novela para a NBP. Lembro- me que o António Moniz Pereira, que já não está entre nós, me convocou para uma reunião e me disse que tinha gostado mas que eu precisava de viver. “Não tenho dúvidas de que o teu espaço na televisão está reservado”, disse- me ele.
Mas depois ganhou o concurso de guionismo que a NBP promoveu e começou a trabalhar. Até agora. De todas as novelas que escreveu, tem uma preferida?
Isso é impossível de dizer. Mesmo os projetos de outros colegas em que participei, não consigo ter menos amor por eles do que por projetos criados e desenvolvidos por mim. Bem, ‘ Meu Amor’ trouxe- me uma grande alegria. Deu- me um Emmy. ‘ Remédio Santo’ permitiu- me trabalhar na zona do
AS MINHAS NOVELAS
NÃO SÃO MORALISTAS. NÃO SOU NENHUM SANTO E NÃO DOU LIÇÕES DE MORAL
realismo fantástico e deu- me mais uma alegria: uma nomeação para o segundo Emmy. Mas todas as novelas são especiais. ‘ Alguém Perdeu’ é o arra n q u e d a l i n h a d e fi c ç ã o da CMTV...
E alguma das novelas que escreveu o desiludiu, quando a viu no ecrã?
Não o projeto em si, mas às vezes há cenas que não resultam como eu queria e fico muito chateado. Depois há outras que me surpreendem pela positiva: cenas que eram simples no papel mas de que conseguiram fazer algo de muito especial. Há as duas coisas.