Correio da Manha - Boa Onda

“HEI DE SER SEMPRE DO FADO”

FADISTA GRAVOU COM PIANO E PERCUSSÃO E DIZ QUE TAMBÉM TEM O SEU PRÓPRIO PURISMO

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Que coisa é esta do ‘ fado ao contrário’? [ risos] Este é um disco de música portuguesa e só por isso já é um pouco diferente do que eu tinha feito até agora, que eram sobretudo discos de fados tradiciona­is. Mudei também o produtor, fiz mais temas ao piano e incluí a percussão portuguesa que são tudo coisas inéditas no meu trabalho. Mas estava cansado dos fados tradiciona­is?

Não, até porque este disco tem quatro fados tradiciona­is. A questão é que eu fiz cinco discos à volta dele e agora quis mesmo fazer uma coisa diferente. Há muito que eu sonhava, por exemplo, trabalhar com o Filipe Raposo [ produtor], que é um músico genial e quis que este disco andasse muito à volta de novas composiçõe­s.

Já passaram dezasseis anos desde a sua estreia em disco. De lá para cá muito aconteceu no fado e com o fado. É impossível assistir a estas mudanças todas e não ser contaminad­o!

Eu não digo que tenha sido contaminad­o [ risos]. Eu acho é que a determinad­a altura cada um tem as suas necessidad­es e cada um procura definir o seu próprio caminho. Eu, por exemplo, nunca vou atrás das sonoridade­s. Eu vou é atrás dos poetas. Sempre me foquei primeiro no repertório. A música vem por acréscimo.

Este disco tem, de resto, um elenco de luxo: Amélia Muge, Maria do Rosário Pedreira, Márcia ou Manuela de Freitas, entre outros. Foram escolhidas a dedo!

[ risos] Isto não tem segredo nenhum. Para além de ser uma pessoa bastante intuitiva, eu vou muito atrás das minhas referência­s e uma vez mais foi isso que fiz. AAmélia Muge, por exemplo, trabalha comigo desde sempre e a Márcia, apesar de fazer aqui a sua estreia comigo, é uma compositor­a que admiro bastante. Claro que tenho outras referência­s para além destas, mas se não entraram agora neste disco hão de entrar no próximo.

E o Pedro Moutinho nunca se aventurou a escrever os seus fados?

Não. Cada um nasce para o que nasce e eu não nasci para escrever. Já tentei mas depois começo a ler o que escrevi e aquilo faz- me lembrar um fado que já ouvi em algum lado. Não é mesmo a minha praia.

O seu úl t i mo di sco t i nha sido gravado no Museu do Fado. Como é que foi agora? O disco foi todo gravado em estúdio, mas os quatro fados tradiciona­is foram gravados de forma curiosa na mesma sala.

Mandei apagar a luz e gravámos todos seguidos, precisamen­te para passar um bocadinho aquele ambiente do disco anterior mais próximo do que deve ser o fado.

Sente que lançou neste disco novas tendências do que pode vir a ser o seu trabalho daqui para a frente?

Eu estou sobretudo a olhar para o presente. Além de ser um fadista, eu sou um cantor. Oiço de tudo um pouco e tenho gostos musicais muito variados. Quando chego a uma altura da minha carreira em que já devo ter gravado mais de 35 fados tradiciona­is, eu pergunto- me o que é que eu posso trazer de novo para mim e com o qual eu possa identifica­r- me. Mas nunca nada disto é pensado. Eu, por exemplo, não sabia que ‘ A Força do Mar’ ia ser tocada com piano.

Mas vê- se a voltar em exclusivo aos fados tradiciona­is? Eu não tenho problemas nenhuns com isso. Eu estou muito bem resolvido com os fados tradiciona­is e eles nunca se es

ALÉM DE SER UM FADISTA EU SOU UM CANTOR E TENHO GOSTOS MUSICAIS MUITO VARIADOS

quecem. Eu hei de ser sempre do fado, só que eu também gosto de fados musicados. Eu não sou um purista mas tenho o meu purismo dentro do fado. O que posso dizer é que para já estou focado neste novo disco, que gostava muito de l evar para a estrada.

E que certamente irá obrigar a uma logística maior!

Sim, claro. Para este novo espetáculo seremos sempre seis músicos em palco, mas será sempre uma aventura com a qual eu quero muito divertirme. Quero muito viver estas novas canções.

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PEDROMOUTI­NHO TEM 42 ANOS E É O IRMÃO MAIS NOVO DE CAMANÉ

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