À PROCURA DE BLIMUNDA
JORNALISTA E ESCRITORA COM FORMAÇÃO EM HISTÓRIA LANÇOU MÃOS À OBRA E APRESENTA UM LIVRO SOBRE EPISÓDIOS MENOS CONHECIDOS DA NOSSA HISTÓRIA. A PRIMEIRA EDIÇÃO JÁ ESTÁ ESGOTADA!
Quando escreveu ‘Memorial do Convento’ e criou uma das suas mais belas e enigmáticas personagens – a vidente Blimunda – José Saramago sabia que, no século XVIII, existiu uma mulher de nome Doroteia que, em jejum, tinha ‘visões’. Olhando para as grávidas conseguia saber o sexo dos bebés; olhando para pessoas e animais conseguia detetar onde se desenvolviam as suas doenças. Foi ela quem, a pedido do protetor, o Rei D. João V, indicou onde se escondiam as nascentes de água que alimentaram a construção do Convento de Mafra. Por isso, ciente do seu poder, quando a Inquisição a chamou a depor – para que explicasse de onde lhe vinham as visões – faltou à chamada e escreveu uma carta a dizer que não ia comparecer. E não foi.
Esta é uma das muitas histórias que a jornalista e escritora Fátima Mariano recolheu e reuniu no volume ‘Grandes Mistérios da História de Portugal’, a convite da editora Contraponto. Pediram-lhe que – dada a sua formação em História – encontrasse episódios menos conhecidos, surpreendentes e passíveis de cativar leitores de todas as idades, e a autora lançou mãos a um projeto que diz ter dado “muito trabalho, mas ainda mais prazer”.
“Parti de uma lista de histórias que já conhecia, mas outras foram-me indicadas por amigos e, ao longo da minha investigação, fui tendo surpresas agradáveis”, diz ela, que gosta de falar do episódio do cargueiro ‘Angoche’. “É uma história que se passou já no
século XX, mas que me impressionou muito”, conta. “O cargueiro ‘Angoche’ desapareceu ao largo de Moçambique em 1971 – ou seja, em plena guerra colonial –, e foi encontrado uns dias depois, parcialmente queimado. Dos 24 homens que estavam a bordo, nem rasto, e o único ser vivo que se encontrava a bordo era um cão. Até hoje não se sabe o que aconteceu àqueles homens”, diz Fátima Mariano.“O caso foi coberto pela imprensa de todo o Mundo e muito se especulou sobre o que pode ter acontecido. A verdade, porém, nunca foi apurada.”
É por estas e outras histórias que o livro, que saiu em julho, já esgotou a primeira edição e ‘obrigou’ a Contraponto a anunciar uma segunda. “Tenho amigas minhas cujos filhos, crianças de 8, 9 ou 10 anos, devoraram o livro, o que me deixou muito satisfeita, porque esse era o objetivo a que me propus: ter leitores de todas as faixas etárias.”
E como Fátima Mariano ainda ficou com várias histórias na gaveta – episódios que não cabiam no primeiro volume dos ‘Grandes Mistérios’ – não descarta a possibilidade de vir a fazer um segundo.“Assim que o livro saiu, houve muita gente a vir contar-me histórias curiosas, por isso, quem sabe... No fundo é outra maneira de saber de História de Portugal...”