Excessos do melodrama de TV
AINDA HAVERÁ NOVELAS SEM CRIANÇAS SEPARADAS À NASCENÇA?
Lá vi a estreia de ‘Corda Bamba’ (TVI): não, não tem uma criança separada à nascença; não, não tem duas. Se bem percebi, já vai em três — três! — crianças separadas à nascença! Só no primeiro episódio. Isto promete uma floresta genealógica! Nas novelas, a estreia é um ‘trailer’ duma hora. Situações extremas invulgares aconteceram às golfadas: crianças raptadas, grávida fingida matando com um vidro de copo enquanto etc. O absurdo normalizado. Está posta a mesa para 150 episódios. Pode um livro mudar o rumo duma maneira de ver o mundo? Aconteceu com ‘The Americans’, de Robert Frank (1924-2019). A câmara soltou-se da gravata e do vestidinho burgueses que habitavam as cabeças doutros fotógrafos e focou a gente comum.
A estreia começou de forma invulgar, prometedora: foram três minutos sem diálogo (numa novela!), com banda sonora estrangeira e com uma bela cena dum drone entrando por uma casa dentro, na Madeira. Depois, entrou na normalidade das novelas.
Roberto Leal (1952-2019) marcou menos na música do que pela forma como fez a ponte Portugal-Brasil e pelo seu modo de estar no mundo: afável, correcto, religioso, inteligente. E não era uma ‘personagem’ criada para a TV, era mesmo assim.
A‘reforma ortográfica’inconstitucional em vigor continua a devastar no Diário da República e nos media, a começar na montra que são os ecrãs de TV. A cobardia do parlamento ainda não reverteu este confirmado desastre para a lusofonia.