Correio da Manha - Boa Onda

MCCARTNEY FALA SOBRE O SEU LIVRO

BEATLE ESCREVE PARA NETOS

- TRADUÇÃO ANA MARIA RIBEIRO

Porque decidiu escrever ‘Ei, Avozão’? Porque, um dia, um dos meus netos, em vez de me chamar avô chamou-me avozão. E eu achei graça. Gostei. Comecei a imaginar uma série de histórias em volta da personagem avozão. Decidi torná-lo mágico. As crianças dizem: “Ei, Avozão! Podemos ir a algum lado?” E ele leva-os a viverem aventuras mágicas.

Escrever um livro ilustrado para crianças é parecido com escrever canções? É parecido, no sentido em que também há que usar a imaginação. Numa canção, crias as letras e a música, e talvez uma história. Num livro para crianças, não precisas da música mas precisas de usar a imaginação. Em qualquer dos casos estás a inventar algo, mas no livro infantil, levas a história um pouco mais longe. Um passe de magia e estás em Zanzibar ... podes ir onde quiseres. Numa canção, embora possas fazer o mesmo, acabas por manter os pés assentes na terra.

Qual é lugar mais interessan­te que visitou recentemen­te? Sidney, na Austrália. Estive na Ponte da Baía de Sydney e foi realmente impression­ante.

Se tivesse uma bússola mágica, como tem o Avozão, para que lugar do Mundo se transporta­ria? Provavelme­nte para as Caraíbas. Adoro aquelas ilhas. Dava uns belos mergulhos e uns passeios pela praia. Ou então ia à Grécia e às suas magníficas praias de água azul transparen­te. Na verdade, há tantos lugares fantástico­s no Mundo!

‘Ei, Avozão’ parece ser uma história ideal para contar aos miúdos à hora de deitar. Em criança, também tinha histórias preferidas?

Ninguém me contava histórias ao deitar. Era eu quem lia, à noite. A minha casa não era daquele tipo de casa onde os pais leem para os filhos... Li ‘A Ilha do Tesouro’, do Robert Louis Stevenson. Adoro. Mas o meu pai arranjou uns fones que chegavam ao nosso quarto e que nos per

“QUANDO NOS SENTIMOS EM BAIXO, LER UM BOM LIVRO OU PÔR MÚSICA AGRADÁVEL AJUDA”

mitiam ouvir rádio. De certa maneira, era uma forma de termos acesso a histórias. Uma forma moderna.

Tem alguma memória especial dos seus avós?

Não. Não os cheguei a conhecer, o que é bastante triste. Só percebi que não tinha tido avós quando cheguei a uma certa idade, mas eles morreram antes de eu nascer. Mas tive tios e tias...

Há alguma mensagem no livro que queira muito que chegue aos leitores mais jovens?

Uma das coisas que acontece neste livro é que, quando começa, está a chover e os miúdos estão rabugentos e tristonhos. E depois vão até à praia mágica. A ideia é: não fiquem rabugentos nem tristes – façam qualquer coisa. Quando nos sentimos em baixo, ler um bom livro ou pôr uma música agradável ajuda a mudar de estado de espírito.

O que o levou a escolher a Kathryn Durst para ilustrar a sua obra? Mostraram-me o trabalho de vários ilustrador­es e como me habituei a ler histórias infantis quando os meus filhos estavam a crescer, conheço bem o tipo de trabalho que se faz habitualme­nte. Gostei muito do estilo da Kathryn. Achei que era adequado para o Avozão. Era diferente, levemente boémio, e ela transformo­u o protagonis­ta num ser excêntrico, o que me agradou. Todas as propostas que ela ia fazendo, eu aprovava, com alegria.

Tem uma ilustração preferida?

Gosto de todas. Uma das mais especiais é aquela em que eles estão todos a pescar. Vão à praia e conseguem voar em cima de um peixe voador gigante. Ah, adoraria poder fazer isso!

Qual é a melhor coisa de ser Avozão? As crianças. Os miúdos são incríveis. Tão inocentes, tão espertos, e têm tanto para ensinar. Estás o dia inteiro com adultos. Depois vais para casa, os miúdos dizem coisas giríssimas e fazem-te rir. Por exemplo. Os meus netos gostam de futebol. Noutro dia, dois deles estavam a falar sobre um jogador qualquer e eu não sabia quem era. Perguntei-lhes e o mais velho disse ao mais novo: “Ah, o avô não é um verdadeiro entusiasta de futebol. Ele até gosta, mas não acompanha como nós.” E sabe que ele tinha razão? Eles podem-me ensinar umas coisas.

Os seus netos já leram o seu livro? O que pensam dele?

À medida que o livro ia sendo feito, eu ia-lhes mostrando as impressões. E eles gostaram. Agora vão receber o livro terminado. Mas ao longo do processo foram-me encorajand­o: diziam que gostavam da direção que estava a tomar, e foi bom saber disso.

O Avozão parece ser uma personagem que pode evoluir. Vê-o a ter outras aventuras, no futuro?

Bem, vamos ver como é que este livro se porta. Se as pessoas gostarem, posso continuar, porque tenho mais histórias na manga. Seria giro continuar. Se as pessoas não gostarem, o livro vai acabar por desaparece­r, sem deixar rasto.

Este livro é indicado para crianças em idade pré-escolar e primária. Guarda boas memórias da escola primária? Muito boas. Apesar de viver em Liverpool, frequentei uma escola fora da cidade e adorava dar passeios no bosque, que ajudaram a cimentar o meu amor pela natureza. Tenho boas memórias de alguns amigos, de jogar jogos. As raparigas não gostavam dos jogos... as saias caíam-lhes pelas pernas abaixo. Sim, foi muito giro.

Uma última questão. O Avozão sabe tocar guitarra. É algo que costuma fazer com os seus netos? E eles pedem-lhe alguma canção dos Beatles?

Bom, de vez em quando toco em casa... Às vezes digo-lhes: “Olhem, as pessoas pagam dinheiro para me verem tocar e vocês não estão minimament­e interessad­os!” E eles respondem: “Avô, não se importa? Estamos a ver este jogo...”. Noutras vezes querem ouvir, e temos um momento de sossego, em que toco para eles. De vez em quando, antes de dormirem, toco a preferida deles. ‘Blackbird’ (tema dos Beatles, de 1968). Há canções que eles conhecem porque são usadas em bandas sonoras e eles viram os filmes e conhecem-nas. ‘Blackbird’ faz parte da banda sonora do filme ‘The Boss Baby’, por exemplo.Adoro quando isso acontece. ‘Blackbird’ é, neste momento, a canção que lhes canto mais.

“SE AS PESSOAS GOSTAREM (DESTE LIVRO) POSSO CONTINUAR, PORQUE TENHO MAIS HISTÓRIAS NA MANGA”

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