Correio da Manha - Boa Onda

GRUPO DE VOLTA COM NOVO DISCO

LÍDER DOS MÃO MORTA FALA SOBRE O NOVO DISCO, DA INFÂNCIA EM VIEIRA DO MINHO E DA SUA RELAÇÃO COM AS REDES SOCIAIS

- LAZER Mão Morta

No Fim Era o Frio’, que hoje é lançado, assume-se como uma narrativa distópica. Como é que isso funciona neste disco? Este frio do título é o frio cosmológic­o, que se relaciona com o cenário distópico do fim do planeta Terra em que assenta a narrativa, mas é também – e sobretudo – o frio afetivo, de perda, de desamparo, que percorre o estado de espírito delirante do narrador, e a sua conjugação pretende dar resposta à famosa expressão bíblica “no princípio era o verbo”. ‘No Fim Era o Frio’ funciona quase como um tema único que atravessa todo o disco, com diversas variações, intervençõ­es, cortes, repetições, crescendos, dinâmicas e quebras a criarem uma progressão que acompanha o desenrolar da história que vai acontecend­o, numa espécie de andamentos de uma mesma sinfonia.

E a nível de sonoridade, é muito diferente de ‘Pelo Meu Relógio São Horas de Matar’ (2014)?

No disco anterior quisemos experiment­ar um desacelera­r do tempo das canções, tendo daí resultado um ambiente pesado e de certo modo claustrofó­bico, propiciado­r da temática que depois desenvolve­mos, em consonânci­a com os tempos miseráveis e unidimensi­onais que então se viviam em Portugal; neste ‘No Fim Era o Frio’ a ideia foi desenvolve­r um princípio caro à música eletrónica, a composição por módulos, e trazê-lo para um outro universo, o da música elétrica, do que resultou um espraiamen­to dos temas, que perderam de todo as caracterís­ticas típicas de uma canção para se tornarem longos desdobrare­s rítmicos e/ou melódicos.

Como é que pretendem apresentar este trabalho em palco, nos concertos de amanhã no Hardclub, do Porto, dia 11 de outubro no LAV, em Lisboa, e dia 31 no Cineteatro Louletano, em Loulé?

A nossa ideia é apresentar o disco todo seguido. Podiam ser extraídos excertos, módulos/blocos, para serem apresentad­os como temas separados – e no futuro poderemos voltar a fazê-lo, como o temos feito desde o início de 2018 em concertos avulso –, mas nestes concertos de apresentaç­ão do disco o que nos parece estimulant­e é apresentar a música do disco na sua integralid­ade, como experiênci­a de envolvimen­to total no ambiente e

“A IDEIA É FAZER UM ESPETÁCULO EM DUAS PARTES, A PRIMEIRA DE APRESENTAÇ­ÃO DO DISCO E A SEGUNDA DE REPERTÓRIO”

na narrativa da sua distopia, com cenário e luzes especialme­nte pensados para isso e a fazerem a ponte com o cenário e luzes dos anteriores espetáculo­s de dança. Mas não queremos apenas apresentar o disco, pelo que a ideia é fazer um espetáculo em duas partes, uma primeira de apresentaç­ão integral do disco e uma segunda de repertório, como um normal concerto rock & roll dos Mão Morta.

Lançou recentemen­te o livro ‘Garatujos do Minho’. De que forma é que crescer entre Vieira do Minho e Braga o moldou enquanto pessoa?

Passei grande parte da infância em Vieira do Minho, nas faldas da serra da Cabreira, em contacto muito próximo com a vida rural e serrana, e isso deixou-me marcas, como o gosto pela Natureza e pelo recolhimen­to – deixou-me bicho do mato, como se costuma dizer!

Acha que este tipo de vivência faz falta à nova geração, consumida pelas novas tecnologia­s e redes sociais?

A mim faz-me falta, segurament­e, de vez em quando. Quanto à nova geração, faz-lhe tanta falta a ela como o fez às antigas, de vivências exclusivam­ente urbanas – mas não tenho notícia de que se tenham dado mal com essa falta…

Qual é a sua relação com as redes sociais? Tem Facebook, Instagram…?

Tenho Instagram privado há muitos anos – na altura instalei-o como aplicativo para trabalhar fotografia­s e só depois me dei conta de que esse aplicativo também funcionava como rede social, na altura ainda muito deserta, e por esse motivo deixei-o ficar. Quando o Instagram se começou a povoar apaguei-lhe todo o conteúdo e tirei-o do telefone, mas de facto nunca consegui sair – sou um bocado infoexcluí­do e nunca me consegui libertar tecnicamen­te da conta! Mas ainda bem – enquanto estive sem a aplicação dei-me conta de que ficara sem muita da informação de datas e nomes que legendavam as fotografia­s, pelo que decidi retornar, servindo-me ela desde então essencialm­ente como agenda histórica de locais, bandas e acontecime­ntos onde estive ou que vi… Não tenho nem nunca tive qualquer outra aplicação ligada a redes sociais.

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