PALAVRAS QUE PODEM MATAR
A ENCENADORA ESTÁ A APRESENTAR, NO TEATRO MUNICIPAL SÃO LUIZ, UMA PEÇA DE HORVÁTH QUE NOS FAZ REFLETIR SOBRE O PODER DESTRUTIVO DAS OPINIÕES DEMASIADO RÁPIDAS E POUCO AVISADAS
ENCENADORA DIZ QUE PEÇA DE 1937 ESTÁ ATUALÍSSIMA
Cristina Carvalhal leu uma peça que fala sobre a responsabilidade individual num mundo que é de todos e da forma tantas vezes apressada como fazemos julgamentos uns sobre os outros. E não mais a largou. ‘O Dia do Juízo’, de Ödön von Horváth (1901-1938) , estreou ontem, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, e oferece-se como uma reflexão sobre os tempos que vivemos.
A história da peça é simples. Há um chefe de estação – o único funcionário de uma pequena estação de comboios da província – que, um dia, falha um sinal. Ou se acredita que falhou um sinal. Há um acidente e pessoas que morrem. E de herói, o homem passa a proscrito. De um dia para o outro. “A peça foi escrita em 1937, em plena ascensão do nazismo na Alemanha, e dá conta da forma ligeira como as massas aderiram àquela loucura coletiva que foi lançada no país pelo Hitler”, diz a encenadora. “Pois a mim sugeriu-me os nossos dias, quando todos vivemos online, quando as redes sociais fazem e desfazem reputações, constroem e destroem vidas. As pessoas dizem uma coisa hoje, outra coisa amanhã – mas está tudo bem, porque se vive assim. De forma superficial.”
ELENCO DIVERSO Cristina Carvalhal diz que foi fácil encontrar os atores que dão voz às palavras de Horváth. Entre cúmplices habituais e caras novas. “Gosto de fazer essa mistura: atores com quem já tenho entendimento, e pessoas de fora, que refrescam”, diz. “A personagem mais jovem foi entregue a uma atriz que saiu agora do Conservatório e fez casting (Júlia Valente).”