Carmen Souza “TENTO USAR A VOZ DE FORMA DIFERENTE”
CANTORA REGRESSA AOS DISCOS COM `THE SILVER MESSENGERS - A TRIBUTE TO HORACE SILVER', PIANISTA E COMPOSITOR DE JAZZ NORTE-AMERICANO. O ÁLBUM É APRESENTADO DIA 30 NO HOT CLUBE PORTUGAL
Que homenagem é esta que decidiu fazer a Horace Silver? É uma homenagem que há muito tempo estava no meu imaginário porque ele é um músico que tem muito a ver comigo. Tem as mesmas raízes cabo-verdianas (o pai dele era da ilha de Maio), e embora eu não saiba até que ponto ele conheceu bem a sua terra, sei que sempre esteve em contacto com a sua música, apesar de ter nascido nos EUA. Sei que o pai dele organizava muitos serões com músicos de Cabo Verde e que ele estava sempre presente.
Mas chegou a privar com ele?
Não, infelizmente não, mas ele marcou muito o meu percurso. Para mim foi muito interessante ver como ele traduzia as suas origens para o jazz. Foi muito interessante encontrar a sua música no meu caminho. O que ele fez é exatamente aquilo que eu faço hoje: fundir as minhas origens lusófonas com o jazz e com música de improvisação.
Que som é este que a Carmen conseguiu desenvolver e que todos dizem que é muito novo e próprio?
É de facto um som próprio, mas que eu não desenvolvo sozinha. Comigo está o
Theo Pascal, que foi quem me mostrou a música desde o início e que já trabalha comigo há quase 17 anos. Temo-nos descoberto e desafiado um ao outro, sempre à procura de novos sons e de nos ouvirmos a nós próprios.
Lida bem como os títulos que, entretanto, já lhe colocaram de Ella Fitzgerald de Cabo Verde ou de nova Cesária Évora?
Não posso dizer que não me agradam, porque essas mulheres são nomes de peso e grandes embaixadoras da música, mas eu quero é percorrer o meu caminho e descobrir-me como Carmen Souza.
Continua a dizer-se que a Carmen é mais elogiada no estrangeiro, nomeadamente nos EUA e Reino Unido, do que em Portugal. Porquê?
É natural que seja assim. Eu nasci em Portugal, mas vivo em Londres há 11 anos e, por isso, acabo por trabalhar mais lá por fora. Portugal é apenas mais um pedacinho do Mundo, mas claro que fico muito feliz quando regresso.
Mas porque é que saiu de Portugal? Eu vivi em Portugal até por volta dos 28 anos. Mudei-me para Londres porque queríamos internacionalizar o projeto, abrir novos caminhos, e Londres foi uma cidade que nos atraiu muito por causa da mistura cultural que lá existe.
Como é que esta coisa da música nasceu para si?
Eu sempre fui uma criança muito curiosa com música e com instrumentos musicais e sempre gostei de cantar. Aos 18 anos, quando eu conheci o Theo, é que comecei então a fazer música mais a sério e a desenvolver mais a voz e a relação com o piano. É engraçado porque a música que o meu pai ouvia em casa era essencialmente instrumental e eu, inconscientemente, imitava os solos de guitarra ou do saxofone que ouvia. Ainda hoje faço isso. Tento usar a minha voz como um instrumento e colocá-la de maneira diferente.
A música, então, é uma herança que herdou do seu pai!
O meu pai tocava como amador. Eu lembro-me que ele passava muito tempo fora de casa, porque trabalhava em cargueiros, e quando chegava sentava-se a tocar com a sua guitarrinha. Como cresci no meio da igreja, lembro-me também de ver o pastor a tocar piano. A minha mãe dizia-me que eu muito pequena fugia do colo dela só para o ouvir durante os cultos.
“QUERO PERCORRER O MEU CAMINHO E DESCOBRIR-ME”