Quem o quer ver morrer?
PRIMEIRO VOLUME DA OBRA JÁ CHEGOU ÀS LIVRARIAS E A AUTORA DIZ QUE PROVA QUE OS XUTOS & PONTAPÉS “SÃO MESMO FIXES”
Na carta de despedida que deixou no local da sua morte, e para tentar explicar o desencanto que sentia pelo mundo da música, Kurt Cobain deixava escritas umas palavras sobre Freddie Mercury.“…Por exemplo, quando estamos atrás do palco e as luzes se apagam, e o ruído ensandecido da multidão começa, isso não me afeta do jeito que afetava Freddie Mercury, que parecia amar, se deliciar com o amor e adoração da multidão, que é algo que eu admiro e invejo totalmente”. Ora foi precisamente assim, rodeado de um mar de gente, com uma multidão a seus pés no Estádio Wembley, em 1985, que Bryan Singer, o realizador de ‘Bohemian Rhapsody’, decidiu colocar Freddie Mercury no fim do filme. As últimas imagens mostram mesmo a redenção de uma das maiores estrelas do mundo da música, reconciliada com a sua vida e com a sua banda. Depois disso, um fundo negro seguido de uma frase: “Freddie Mercury morreu de uma pneumonia, relacionada com a sida, a 24 de novembro de 1991. Tinha 45 anos”. Pelo facto de o filme se concentrar apenas em quinze anos da vida do cantor, deixando de fora os últimos seis anos, tem-se falado nos bastidores de Hollywood sobre a hipóteses de um ‘Bohemian Rhapsody II’, mas Peter Freestone, antigo assistente pessoal e guarda-costas de Freddie Mercury, enfermeiro durante os seus últimos momentos em vida e consultor do filme, juntamente com Brian May e Roger Taylor, já fez saber que não contam com ele.“Não gosto da ideia de poder haver um ‘Bohemian Rhapsody II’. O que quer que levem para o grande ecrã, teriam de mostrar o Freddie a morrer, e ninguém quer ver isso”. Ou como escreveria Cobain,“não é justo”.
A HIPÓTESE
DE UM `BOHEMIAN RHAPSODY II' NÃO AGRADA A TODOS
Zé Pedro já não viu os últimos capítulos do livro ‘À Minha Maneira’, mas foi ele quem sugeriu a Ana Ventura que escrevesse uma obra sobre a vida e a carreira dos Xutos & Pontapés. A jornalista achou que o género autobiográfico se aplicava: que fossem os próprios músicos a contarem a sua história. E assim nasceu este projeto que terá, no total, dois volumes, e dos quais o primeiro – que se reporta ao período entre 1979 e 1999 – já está nas livrarias.
“A ideia inicial já remonta a 2004. Pelo caminho houve muitas horas de entrevistas e a vida meteu-se pelo meio: os Xutos iam lançando discos e fazendo concertos; o Zé Pedro ficou doente...”, lembra a autora, que diz que ao escrever ‘À Minha Maneira’ acredita ter descoberto o segredo do sucesso dos Xutos & Pontapés. “É o amor”, revela. “No fundo, foi a confirmação daquilo que eu imaginava: é a profunda relação de amor que une estas cinco pessoas que justifica a longevidade do projeto. Os Xutos juntaram-se pelo amor à música e pela vontade de fazerem algo diferente no panorama do rock português, mas o amor que os une, enquanto amigos, foi aquilo que deu solidez a tudo.”
E quanto aos leitores, Ana Ventura avisa: “Mesmo que digam que não gostam da música, toda a gente diz que os Xutos são aqueles gajos muito fixes... Depois de ler este livro, vão ter a certeza: eles são mesmo muito fixes”, conclui.