Correio da Manha - Boa Onda

Noémia Costa “TIVE DE ME FAZER À VIDA”

ATRIZ FOI OBRIGADA A EMIGRAR PARA INGLATERRA DEVIDO À FALTA DE TRABALHO EM PORTUGAL. DURANTE DOIS ANOS ESTEVE A TRATAR DE DOENTES COM DEMÊNCIA PROFUNDA

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Terra Brava marca o seu regresso à televisão após quatro anos afastada. Como é que está a correr?

Muito bem. Estou muito feliz, a Prazeres é uma personagem fantástica.

Nem sempre é fácil a profissão de atriz. Como é que tem vivido os últimos anos?

É difícil viver no fio da navalha. E eu já vivo nela há 39 anos. Estreei-me muito nova... portanto às vezes as paragens são forçadas e obviamente que não são as melhores para nós.

Tem que se fazer contas à vida?

Claro que sim. Os atores em Portugal não ganham de todo aquilo que as pessoas pensam que ganham. Têm todos os deveres e não têm direitos nenhuns... penso que com isto digo tudo.

Esteve alguns anos parada. Foi obrigada a tomar medidas e a arranjar alternativ­as?

Obviamente, fui trabalhar para Inglaterra.

Esteve a trabalhar em quê?

Estive a trabalhar em saúde. Neste momento, além de atriz, sou formada em All Care Assistant. Trabalhei com dementes profundos. Coloquei o meu currículo numa plataforma de empregos e fui aceite. Vivo sozinha e tive de me fazer à vida.

Neste momento está apta para desempenha­r que tipo funções?

Estou apta para fazer todos os serviços com doentes dementes. Trabalhei com alta demência, o que foi bastante cruel mas sinto que me preparou mais para a vida.

Nunca perdeu a fé no regresso à sua profissão de atriz ?

Nunca! Eu não via esta‘Terra Brava’acontecer, mas nunca perdi a fé nela.

Como é que recebeu este convite para integrar o elenco da nova aposta da SIC?

Quando recebi o telefonema estava a aca

“NUNCA PERDI A ESPERANÇA. SOU UMA MULHER DE FÉ”

bar um turno de 15 horas. O Adriano Luz ligou-me, sabia que eu estava há dois anos fora do País. A partir daí desfiz-me em lágrimas.

Como reagiram as suas colegas quando a viram chorar ao telefone?

As minhas colegas não sabiam que eu era atriz. Era mais uma que estava ali a trabalhar com as pessoas com demência profunda. Não estava feliz, sentia que estava ali só de passagem. Nunca me considerei um ser humano mau, mas, apesar de tudo, voltei um ser humano ainda melhor.

O que sentiu quando o telefone deixou de tocar em Portugal e não tinha ofertas de trabalho?

Nunca perdi a esperança porque sou uma mulher de fé. Fiquei sem trabalho durante dois anos em Portugal. Depois fui dois anos para Inglaterra.

Sentiu-se injustiçad­a? Aconteceu com inúmeros colegas.

O que acha que levou a isso? Infelizmen­te, neste país cataloga-se as pessoas. E ou somos as cómicas ou as dramáticas... Não é nada assim. Há atores e atrizes que fazem tudo. A comédia é um registo difícil de fazer mas um ator deve fazer tudo. Na minha vida não fiz só papéis cómicos.

“EU JÁ VIVO NO FIM DA NAVALHA HÁ 39 ANOS. AS PARAGENS SÃO FORÇADAS E OBVIAMENTE QUE NÃO SÃO AS MELHORES”

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