Um `egoísmo' que vale prémio
Na última edição dos Grammy, em Las Vegas, quando subiu ao palco do Waldorf Astoria para receber o prémio carreira (o segundo para Portugal), José Cid já se tinha referido a pelo menos “dez nomes da nova geração de música portuguesa que mereciam ser premiados” pela Academia Latina de Gravação. Entre eles estava incluído precisamente António Zambujo, ele que até estava nomeado para ‘Melhor Canção em Língua Portuguesa’ com o tema ‘Sem Palavras’, composto por Mário Laginha e João Monge, mas que acabou por perder para o músico brasileiro Tiago Iorc. Ora, o fadista alentejano foi agora premiado com o Prémio José Afonso 2019, pelo seu último álbum, ‘Do Avesso’, que tem no seu alinhamento precisamente o tema ‘Sem Palavras’. Considerou o júri constituído pela pianista Olga Prats, pelo professor de música Sérgio Azevedo e pelo músico Júlio Pereira que o álbum representa “não só a continuação do percurso extremamente coerente de António Zambujo, mas também um ponto alto pela confirmação das suas qualidades interpretativas e a grande inspiração criativa que revela” e que “cada canção de Zambujo conta uma história, e cada álbum é, em si, uma história, na linha de José Afonso, para quem a música estava intrinsecamente ligada quer à sua vida interior quer às circunstâncias do mundo em que viveu”. A propósito, lembrei-me de quando falei com ele sobre ‘Avesso’, quando me dizia que as fórmulas de sucesso não são tão excitantes quanto se possa pensar, que a inquietação é mais estimulante, que a ideia de reconquistar quem já conquistou é altamente sedutora para um artista, que não se esquece de onde vem e que tudo o que faz é puro egoísmo.
ANTÓNIO ZAMBUJO FOI DISTINGUIDO COM O PRÉMIO
JOSÉ AFONSO