Quando a verdade precisa de ser dita
Nunca foi fadista de andar em modas ou de aparecer nos circuitos mais mainstream (se é que isto se pode dizer em relação ao fado). Por opção foi fazendo uma carreira mais discreta, travando as suas lutas, gozando os seus triunfos e lidando com as suas frustrações como podia, mas sempre por opção. “Eu sei que estou sempre a remar contra a maré, porque o mercado e a industria da música exige-nos uma criatividade que não existe. Ela não nos bate à porta a toda a hora”, diz. “Um artista só deve gravar quando tem alguma coisa para dizer”. Longe do frenesim em que se tornou a canção de Lisboa, nem por isso deixou, no entanto, de ser descoberta. Boy George, esse mesmo, o dos Culture Club, chamou-lhe ‘Sublime’, os gregos atribuíram-lhe o título de ‘diva de um fado diferente’ e os franceses batizaram-na de ‘virtuosa’ do palco. Eu conheci Ana Laíns há uns anos numa noite da fados na casa ‘Sabores de Sintra’. Ouvia-a cantar ao lado de Kátia Guerreiro e via-a, emocionada, borrar literalmente a pintura, até porque nisto do fado não há rímel nem eyeliner que resista ao abalo e à comoção das palavras. Lembrei-me dessa noite quando falei com ela recentemente sobre os vinte anos de carreira que comemora dia 31 de janeiro no Casino Estoril e foi com alguma surpresa que a ouvi dizer que já não gosta de cantar em casas de fado. “Assumo-o publicamente sem qualquer problema. Sei que estou a comprar uma guerra ao dizer isto, mas não gosto do ambiente das casas de fado porque está deturpado e muito standardizado para o turismo. Não brinquem comigo. Salvo raras exceções, neste momento não existe verdade nas casas de fado.”
OS GREGOS CHAMAM-LHE `DIVA DE UM FADO DIFERENTE'