O butelo, ou a contemplação
CERTAME TEM UM PROGRAMA VARIADO. COM EXPOSIÇÃO E VENDA DE MATERIAIS PARA A CAÇA E PESCA, MONTARIAS AO JAVALI, LARGADA DE PERDIZES, GASTRONOMIA E ANIMAÇÃO MUSICAL
Os meus conterrâneos do Nordeste dizem que o butelo é de lá. Mal se atravessa o Douro, em Moncorvo, e daí até Vinhais passando por Mogadouro, Vimioso, partes de Miranda e Bragança, o butelo é também chamado bulho, palaio ou, para simplificar, chouriço de ossos – em tudo semelhante ao botelo galego, tão ourensano como Don Ramon Otero Pedrayo, gastrónomo de passagem, e tão lucense como Don Álvaro Cunqueiro, que era de Mondoñedo, província do Lugo, que também tem bons presuntos.
Seja como for, manda a tradição brigantina que se coma o butelo (o estômago ou a bexiga do bicho, recheado de carnes, ossinhos – os do espinhaço, de suã, além de costelinhas – e cartilagens) com casulas, ou seja, a vagem seca e inteira do feijão, que é preciso demolhar antes de cozer, como se de feijão apenas se tratasse. O prato é memorável e desatinado, razão por que se come no Entrudo, como um exemplo de cozido à transmontana de loucura tardia, festa de malucos à mesa, um completo tratado de colesterol assassino: o butelo, ou palaio, coze-se em água por uma hora; as batatas fervem noutra água; com um chouriço dentro, o chispe e outros elementos fatais, já com três quartos de cozedura, juntam-se as casulas por cerca de uma hora, até se apresentarem com a doçura de uma couve troncha, o que – valha a verdade – nunca se consegue. E é isto: desfaz-se o butelo, com os seus ossinhos e carninhas, acompanha-se com tudo o resto. E estes são os sacramentos.
Na Taberna do Carró, em Moncorvo, o palaio, ou butelo (reparem como se inverte a designação) é cozido em água e louro e pode ser desmanchado sobre um arrozinho de feijão branco, maravilhoso: o momento em que o enchido se desmonta sobre o arroz é uma espécie de revelação. A acompanhar, uns grelos de misericórdia, amargos e abrilhantados de azeite do vale da Vilariça. Por vezes, o palaio vem na companhia de massinha de cotovelos e é também de primeira ordem.
Chamei a esta crónica ‘Contemplação’ porque, depois do almoço (que terminou com tarte de amêndoa crocante, ou doce de gila e requeijão), o sereníssimo vulto da serra do Reboredo (820 metros) é o lugar ideal para que se cruzem as províncias de Trás-os-Montes e da Beira (na descida solitárias para Barca d’Alva) com o Douro – centro do mundo – de permeio. Reconfortado com o sacramento do almoço, contemplo o arvoredo: carvalhos brancos, pinheiros, castanheiros, alfazema de inverno, carqueja e milhafres ou águias de Bonelli aos pares ou solitárias. Obrigado, Epicuro.
BULHO, PALAIO OU CHOURIÇO DE OSSOS
De 31 deste mês a 2 de fevereiro, Vilar Formoso, no concelho de Almeida, acolhe mais uma edição da Feira de Caça, Pesca e Desenvolvimento Rural.
O evento decorre no Pavilhão Multiusos de Vilar Formoso, no qual haverá stands de exposição e venda de materiais para caça e pesca, artesanato, produtos gastronómicos, doçaria tradicional, tasquinhas com pratos e petiscos de caça e pesca, exposição de fauna viva (espécies cinegéticas e domésticas), representações institucionais e espetáculos musicais.
Durante os três dias do certame decorrerão atividades paralelas, tais como montarias ao javali, largada de perdizes, demonstração de aves de rapina, demonstração de caça ao coelho e tiro virtual, entre outras. No certame, os visitantes podem ver animais da quinta, como ovinos, suínos, caprinos e asininos. Também há exposição de máquinas agrícolas. Ainda no âmbito do certame realizar-se-ão atividades para os mais novos, entre as quais se destaca o Bosque dos Cogumelos.
O certame é um ponto de encontro de todos os amantes da caça, da pesca, da natureza e do mundo rural, realizando-se num território com tradições na respetiva área e onde a mesma tem uma considerável importância económica. Pretende-se, ainda, divulgar o património cinegético, natural e paisagístico regional..