Correio da Manha - Boa Onda

Betti em Portugal

O ATOR BRASILEIRO APRESENTA PEÇA SOBRE A SUA VIDA

- Paulo Betti

Ahistória de Paulo Betti dava um filme, mas ele preferiu uma peça de teatro. Filho de imigrantes italianos no Brasil, o mais novo de 15 irmãos - dos quais apenas quatro ainda estão vivos - viveu “a infância e a adolescênc­ia em condições extraordin­árias” que partilha em ‘Autobiogra­fia Autorizada’, atualmente em digressão pelo País.

A mãe, Adelaide, mulher do campo, era analfabeta e trabalhava como empregada doméstica em Vila Leão, no interior do estado de São Paulo. O pai, Ernesto, era esquizofré­nico e muitas vezes tinha de ser

Betti, na altura com 14 anos, a interná-lo. Ao contrário dos irmãos, teve a oportunida­de de frequentar boas escolas públicas, tornando-se no “menino prometido” do clã. “Éramos uma família muito pobre mas muito digna”, afirma o ator, de 67 anos, que assumiu essa responsabi­lidade.

Numa tentativa de “digerir” as suas emoções, Betti anotava tudo o que acontecia na sua vida. “Escrevi esta peça a vida inteira. Quando terminei tinha quatro horas. Foi muito difícil cortá-la”, revela à ‘Sexta’ o ator, que encara este trabalho como “um culto aos antepassad­os italianos, que chegaram ao Brasil para substituir os escravos”. Ao mesmo tempo, a peça foi resultado de “uma necessidad­e interior, irrefreáve­l” de contar a sua vida, acabando por funcionar como uma terapia. “A primeira leitura que fiz do guião foi à minha psicanalis­ta”, admite. “Foi uma forma de entender a minha história, da minha família e dos meus amigos”, acrescenta o ator.

A receção do público português não podia ser melhor. “As pessoas riem e emocionam-se. No final, elas acabam por valorizar o seu passado e, muitas vezes, a noite termina comigo a escutar as suas histórias”, conta o artista, que já

entrou em casa dos portuguese­s através de muitas novelas da TV Globo.

PERSEGUIÇíO AOS ARTISTAS

Com mais de 40 anos de carreira, Paulo Betti acredita que o Brasil está a atravessar uma das “fases mais terríveis desde a ditadura” com a presidênci­a de Bolsonaro. “As instituiçõ­es democrátic­as estão ameaçadas porque temos um que persegue os artistas”, afirma, olhando com algum otimismo a nomeação de Regina Duarte para a Secretaria da Cultura. “Pode ser o melhor dos males, e atenuar um pouco o nosso sofrimento”, diz.

“ÉRAMOS UMA FAMÍLIA MUITO POBRE, MAS

MUITO DIGNA”

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