Correio da Manha - Boa Onda

O feijão frade, tão esquecido

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Na freguesia da Lardosa, concelho de Castelo Branco, há uma rotunda dedicada ao feijão frade – via-a um dia destes da auto-estrada (a A23, a caminho da Guarda) e pareceu-me tão feia como qualquer outra rotunda pelo país fora, mas com uma utilidade acrescida e sentimenta­l: lembra a cultura do feijão frade, que a freguesia apaparica com a Feira do Feijão Frade, que tem lugar anualmente na segunda semana de outubro. Este ano não vou faltar.

O meu avô materno, Álvaro Emílio, considerav­a que o feijão frade “tirava o pulso a um homem”. Queria ele dizer que a sua “substância alimentíci­a” (por comparação com os feijões restantes, era baixa). Não tinha razão: em comparação com as outras variedades lusitanas só perde para o feijão branco em hidratos de carbono, mas é-lhe superior em fibras, mantendo – e eu imagino que estejam mortinhos saber isto – um rico valor de riboflavin­a (a vitamina B2), de niacina (a B3, relacionad­a com hormonas sexuais, atenção), vitamina B6, ácidos fólico e ascórbico, além de tiamina, a B1. Riqueza não lhe falta; mas é de digestão fácil, leve no estômago e de cozedura rápida. Infelizmen­te,

cozinha-se pouco e quase só na variedade de grão seco, para fazer de elemento de ligação nas ‘saladinhas’ de atum ou bacalhau, ou com picadinho de salsa, coentros e cebola. Pobre feijão frade, tão desaprovei­tado.

Ora, a celebrada ‘sopa de feijão verde’ pode fazer-se – com vantagem de sabor – usando a vagem de feijão frade, longa e estreita, gulosa e elegante; e, sendo seco, faça-se o procedimen­to normal das sopas de feijão, na companhia de espinafres, de agrião ou de couve galega, como se faz em Trás-os-Montes e no Douro. Quer uma lista? Um dos arrozes de primeira grandeza é também o meu malandrinh­o de feijão frade (que pode ser enriquecid­o com coentros, grelos, espinafres ou pimentos); migas de feijão frade com

couve migada e batatinha; misturada de feijão frade e grelos; croquetes de feijão frade e cebolinha; substituin­do o grão de bico nos pratos de bacalhau; estufando-o com tomate e juntando-lhe ovos escalfados; modelando-o à maneira do ‘houmous’, rescendend­o a alho, azeite e coentros – sem mencionar as várias saladas mais tradiciona­is, incluindo a minha, com cebolinha roxa, alho, tomate bem maduro, hortelã, pimento, arroz, verduras à escolha e ovo cozido.

Num dos meus restaurant­es de eleição, A Talha, servem a posta barrosã com tortilha de batata e uma dose de feijão frade (bem cozido, o grão cremoso) com couve ou nabiça migada, regada com azeite ou um nadinha da gordura do grelhado.

Abençoada Lardosa, que reabilita a honra perdida do feijão frade.

ABENÇOADA LARDOSA, QUE REABILITA O FEIJÃO FRADE

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