Uma recusa respeitosa
Quando em meados do ano passado entrevistei Ricardo Ribeiro sobre o novo disco ‘Respeitosa Mente’, já o cantor avisava: “Este não é um disco de fados, é um disco de canções. Quem estiver ansioso de ouvir fados, faça o favor de ligar para o ‘Faia’ e reservar uma mesa”. E até desencorajava a sua compra.“Claro que eu faço música para as pessoas, para que elas se sintam bem, mas tenho que lhes dizer que se estão à espera de fado, o melhor é não comprarem este disco”. Na altura, ‘Repeitosa Mente’ até teve entrada direta para o n.º 2 do Top de vendas em Portugal e é possível que tenha desapontado alguns seguidores de Ricardo Ribeiro, mas, sub-repticiamente o cantor lá pedia respeito pela sua opção de sair um bocadinho da canção de Lisboa. “A palavra ‘respeito’ vem do latim ‘respicere’ que significa ‘aquele que sabe ver’. Ou seja, respeitar é saber ver o outro”, dizia-me o cantor que apesar de reconhecer que nunca poderá excluir o fado da sua vida, da mesma forma que “ninguém manda embora o pai e a mãe”, tinha sentido uma necessidade enorme de cantar outras coisas. Dizia-me ele que ‘Respeitosa Mente’ era um disco feito, sim, por alguém que é fadista de raiz, mas que também ouve o jazz de John Coltrane e o flamenco do Paco de Lúcia, que ouve Brahms, Schubert e orquestras clássicas mas também ouve música da Mauritânia. Ora foi neste contexto (e porque alguém devia andar distraído) que Ricardo Ribeiro declinou, respeitosamente, a nomeação para ‘Melhor Álbum Fado’ atribuída pelos Prémios Play 2020 - Prémios da Música Portuguesa. “Se um dia este disco será fado, cabe ao tempo e aos Homens a decisão: Hoje não é. Amanhã não sei”, justificou.
RICARDO RIBEIRO SAIU DO FADO MAS NEM TODOS LHE DERAM ATENÇÃO