Quando a guitarra não é uma guitarra
Ele acha que não é polémico, mas é. Sugerir renomear a tradicional, única e enraizada ‘guitarra portuguesa’ e alterar o seu nome para ‘cítara portuguesa’ não só é controverso, como é quase um ato de coragem por parte de Pedro Caldeira Cabral. É verdade que tecnicamente a renomeação faz todo o sentido (o instrumentista já provou no ano passado através de uma exposição na Museu do Fado, com cerca de 50 instrumentos, que a guitarra que se usa no fado afinal é da família das cítaras e não das guitarras), mas facto é que o peso cultural que tem a expressão ‘guitarra portuguesa’ ainda vai fazer arrastar este assunto durante muito tempo.“Os mais puristas e conservadores podem ter mais dificuldade, mas acho que vão acabar por aceitar. Não nos podemos esquecer que hoje temos o mundo a olhar para este nosso instrumento e era importante renomeá-lo. É que ao fazê-lo estamos a valorizá-lo porque, na realidade, ele é muito mais complexo do que a guitarra clássica”. Pedro Caldeira Cabral acredita mesmo que serão primeiro as novas gerações a acatarem a nova designação.“Esta ideia está a ser muito bem aceite pelos utilizadores mais jovens que querem libertar-se da escravatura do repertório e da prática musical associado ao fado”, diz o instrumentista, que lembra que a ‘guitarra portuguesa’ não é mais do que uma cítara que sofreu um conjunto de aperfeiçoamentos locais por parte dos portugueses e que só por isso ganhou características muito próprias e distintas, seja na afinação ou na forma de se tocar. Por outras palavras, há de vir o dia em que se há de dizer que se vai a uma casa de fados não para ouvir umas guitarradas mas
para escutar umas ‘cítaradas’. Será?
URGE RENOMEAR A GUITARRA PORTUGUESA
PARA A VALORIZAR