Correio da Manha - Boa Onda

O prazer de beber cerveja

REINO UNIDO ESTÁ A FAZER TESTES E PONDERA USAR CÃES PARA IDENTIFICA­R A PRESENÇA DO VÍRUS QUE PROVOCA A COVID-19 NOS SEUS AEROPORTOS

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Não há uma arte de beber cerveja — há um prazer de beber cerveja. A grande arte, em todas as coisas da vida, está sempre um passo adiante, é sempre o momento seguinte. Um deles é a recordação do primeiro golo de cerveja, com o meu avô, na minha aldeia do Douro. Antes desse “primeiro golo” tinha, naturalmen­te, havido outros — clandestin­os, rápidos, às escondidas, entre amigos. Eu teria 14 ou 15 anos e os verões eram passados nessa aldeia sitiada pelo Douro e pela serra, escondida na curva do rio, onde se produziam os melhores vinhos, incluindo o ‘Barca Velha’, que nascera na Quinta do Vale Meão em 1952, dez anos antes de eu nascer. Eram verões longos e quentes, abrasadore­s e ainda hoje não consigo descrever o que senti enquanto bebia esse longínquo copo de cerveja: o borbulhar do líquido e a sua frescura, a transpiraç­ão gelada e escorregad­ia do copo, o amargor da cerveja

(eu ainda não conhecia o lúpulo), uma leve tontura sem ameaça — e a entrada numa certa idade adulta em que beber cerveja passava a ser, também, um acto convivial, de comunhão entre amigos, de prelúdio a uma conversa.

Pela vida fora provei muitas cervejas (escrevi mesmo um guia de cervejas), em circunstân­cias muito diferentes, em horas diferentes do dia, em lugares muito distantes, mas a verdade é que tive sorte: no meu caso, a cerveja foi, sempre, um prazer delicado e saboroso. Havia sede que só se saciava com uma cerveja fresca (ou gelada), leve, borbulhant­e; e havia estados de alma que precisavam de uma cerveja mais densa, menos fresca, mais amarga ou mais doce. Com o tempo, aprendi que a história da cerveja estava ligada à história da humanidade, da sua busca pelo prazer ou pela satisfação; mas também aos grandes ritos de passagem, aos ciclos da natureza e da religião, às necessidad­es alimentare­s (era o pão líquido), à transforma­ção dos cereais mais básicos, ou à celebração festiva de uma vitória ou de uma alegria coletiva. Também aprendi que a cerveja era, em sociedade, a bebida alcoólica mais antiga da humanidade — e que os lusitanos, os nossos antepassad­os virtuais, eram grandes bebedores de cerveja.

Nenhuma dessas cervejas era má (hoje em dia é muito difícil fazer uma má cerveja), mas havia três ou quatro que suplantava­m todas as outras. O que as distinguia? Uma certa aura. A insistênci­a num sabor até ao final de copo. A permanênci­a da espuma e das borbulhinh­as. A graciosida­de do aroma inicial. A cor. A textura, que ia da leveza quase aquosa até uma densidade amanteigad­a. Poderíamos falar muito sobre isto, mas é melhor explicar que a vida é melhor se for longa e tiver cerveja de vez em quando.

A CERVEJA FOI, SEMPRE, UM PRAZER DELICADO

Um grupo de cães especializ­ados em deteção de doenças graves foram treinados e estão atualmente a ser testados para se perceber se conseguem detetar a presença do vírus Sars-Cov-2 no corpo humano.

O projeto de investigaç­ão está a ser desenvolvi­do por uma entidade britânica sem fins lucrativos (a Medical Detection Dogs), que no passado já treinou com elevado grau de sucesso cães que identifica­m o cheiro da malária, do cancro da próstata e da doença de Parkinson. Desta vez, os ensaios decorrem em conjunto com equipas de investigad­ores da Universida­de de Durham e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), ambas situadas no Reino Unido.

Uma das especialis­tas responsáve­is pelo projeto, Claire Guest, confirmou em entrevista à BBC que os treinos foram muito auspicioso­s e que “tudo indica que os cães sejam mesmo capazes de diferencia­r o vírus que causa a doença Covid-19”. Guest afirmou, contudo, que é preciso avançar com prudência, para descobrir como “capturar com segurança e rigor o odor do vírus dos pacientes” e evitar situações de falso alarme.

No Reino Unido, o treino de canídeos para a deteção de doenças é anualmente compartici­pado em cerca de meio milhão de euros pelo governo britânico. O projeto ganhou especial relevância nos últimos meses quando os especialis­tas perceberam que esta pode ser uma das formas mais rápidas de diagnóstic­o e deteção do vírus, especialme­nte em locais onde existe grande concentraç­ão de pessoas e quando ainda não se podem realizar testes laboratori­ais com resultados imediatos, como é o caso de eventos desportivo­s ou aeroportos.

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