Correio da Manha - Boa Onda

Cuca Roseta conta tudo sobre a sua paixão por Amália

FADISTA GRAVOU PELA PRIMEIRA VEZ UM DISCO INTEIRAMEN­TE DE FADOS E DE HOMENAGEM À DIVA DA CANÇÃO DE LISBOA. `AMÁLIA POR CUCA ROSETA' ALINHA DEZ TEMAS ICÓNICOS, ENTRE ELES `LÁGRIMA'

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Sabendo que é fã incondicio­nal de Amália Rodrigues (1920-1999), este disco era uma divida que tinha para com ela? Sim. A Amália foi sempre uma grande inspiração desde que ouço fado. Só há quatro artistas de quem sou fã: Beatles, Queen, Frank Sinatra e Amália Rodrigues. Como este ano se assinala o centenário do seu nascimento, eu achei que fazia todo o sentido lançar um disco como este. Acho que fazia falta à minha carreira porque acaba por contar muito a história de como tudo começou. Como eu também sou compositor­a, todos os meus discos até agora acabavam por incluir temas meus e nunca tinha feito um disco só de fados. Há muito que queria fazê-lo, para mostrar o que me fez chegar aqui. São dez temas que escolhi um a um e que mostram precisamen­te os primeiros fados que cantei ao vivo nas casas de fados, nos primeiros concertos e outros que ainda canto.

Recorda-se do seu primeiro contacto com a Amália ou com a obra dela?

É curioso porque eu não posso dizer que em pequenina já ouvia a Amália, porque na verdade em minha casa não se ouvia fado. Os meus pais ouviam sobretudo música clássica e ópera. O meu primeiro contacto com a Amália, muito provavelme­nte, deu-se quando entrei para os Toranja e quando com eles comecei a frequentar casas de fado. Aquilo despertou-me tanto que comecei a pesquisar sobre fadistas, até ao dia em que encontrei a Amália. Foi uma paixão repentina.

Que idade tinha?

Tinha 18 anos. É de facto muito tarde para se descobrir o fado [risos]. É provável que eu já tivesse ouvido o nome da Amália, mas por minha iniciativa fui à procura de saber o que era aquela coisa do fado. Há uma coisa muito interessan­te na minha vida que a minha mãe me conta. Ela dizia-me que apesar de não ouvirmos música portuguesa em casa eu tinha uma paixão enorme por tudo o que era cantado em português. Nas festinhas e nos bailaricos nas férias, por exemplo, eu pedia sempre à minha mãe para irmos para ao pé dos ranchos. Já tinha uma paixão por coisas tradiciona­is sem que isso tivesse sido passado pelos meus pais.

E o que se recorda dessa primeira vez que foi a uma casa de fados?

Fiquei completame­nte viciada e nunca mais larguei. Foi no Clube de Fado e as

“EM MINHA CASA NÃO SE OUVIA FADO. OS MEUS PAIS SÓ OUVIAM MÚSICA CLÁSSICA E ÓPERA”

primeiras pessoas que ouvi ao vivo foram a Ana Sofia Varela e o Carlos Zel. Foi ele, aliás, quem me pôs a cantar, depois de ouvir os meus colegas dos Toranja dizerem que eu tinha boa voz. É engraçado porque eu só sabia um fado, o ‘Fado em Cinco Estilos’, da Maria Teresa de Noronha. Foi esse que interprete­i à minha maneira. Depois passou-se uma coisa engraçada. Quando se vai a uma casa de fados tem de se cantar sempre três temas, só que como eu não sabia mais, tive de me vir embora. O Carlos Zel ainda me disse que era uma pena porque eu tinha esta capacidade rara para cantar fado. Foi então que fui para casa pesquisar e encontrei a Amália.

Mas nunca privou com ela?

Não. Quando eu descobri o fado, já ela tinha morrido. Isso mostra aliás a minha chegada tardia ao fado. Lembro-me do dia em que ela morreu porque vi nas noticias, na televisão, toda a gente na rua. Mas como ainda não havia ligação aquilo não me disse nada na altura. Por isso é que é engraçado esta paixão repentina que tive pela Amália Rodrigues.

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