Correio da Manha - Boa Onda

Um estatuto... inacabado

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Após décadas de impasse, o Governo aprovou dia 22 de Abril o Estatuto do Profission­al da Cultura, ou melhor dizendo, o primeiro esboço do que pode vir a definir o enquadrame­nto legal de várias profissões do setor. Este primeiro documento (a consulta pública irá trazer uma contribuiç­ão fundamenta­l para a versão final) tem que ser visto como um ponto de partida e não como um ponto de chegada. Paira a dúvida se terá sido aprovado à pressa por causa da pandemia (no último ano o Governo fez, ainda assim, mais reuniões com associaçõe­s do setor do que nos últimos 20 anos) e por isso é fundamenta­l não deixar pontas soltas. Este estatuto tal como está carrega algumas dúvidas, por exemplo, quanto ao combate aos falsos recibos verdes, à carga contributi­va ou às formas de proteção. A obrigatori­edade, em particular, de uma paragem total da atividade durante três meses até se poder pedir um apoio social, pode não se coadunar exatamente com a intermitên­cia da atividade. Também está em falta uma ferramenta fundamenta­l para chegar ao modelo final que é o primeiro Mapeamento do Território Artístico e Cultural (ainda em curso). Só com ele se poderá saber, ao detalhe, quantos são, onde estão e o que fazem os profission­ais do setor. Uma coisa é certa: O drama da pandemia veio retirar o véu do glamour sobre o setor da cultura e colocar a descoberto a precarieda­de dos seus profission­ais. A ministra da cultura Graça Fonseca considerou o 22 de Abril como “um dia histórico”. Eu diria que, à partida, só é “histórico” porque finalmente se deu o primeiro passo. Agora é só preciso saber aproveitar a oportunida­de para não se criar um estatuto que não sirva a quem mais precisa dele.

A PANDEMIA VEIO RETIRAR O VÉU DO GLAMOUR SOBRE O SETOR DA CULTURA

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