Almeno Gonçalves “FOI A CONCRETIZAÇÃO DE UM SONHO”
ATOR DE 61 ANOS ESTÁ EM DOSE DUPLA NA TV: INTEGRA O ELENCO DA SÉRIE DE ÉPOCA DA RTP `VENTO NORTE', DA QUAL É TAMBÉM CRIADOR E PRODUTOR, E É VILÃO EM `AMOR AMOR' (SIC). E AINDA PREPARA O REGRESSO AO CINEMA
Como surgiu a ideia para fazer a série de época ‘Vento Norte’ (emitida às quartas-feiras à noite na RTP 1), de que é produtor?
A ideia surgiu depois de ter ouvido uma conversa de café em que me apercebi que este período da história, sobretudo o golpe militar de 28 de maio de 1926, era uma altura em relação à qual as pessoas não tinham conhecimento. Juntei dois amigos, um dramaturgo [João Lacerda Matos] e um realizador [João Cayatte] e desenvolvemos a ideia.
Acabou também por integrar o elenco. Como correram as gravações? Foi a concretização de um sonho. Gostei também de produzir. Aqui consegui juntar o útil ao agradável: contar uma história, produzir a contagem dessa história e, por outro lado, entrar como ator. Consegui o melhor dos dois mundos.
Está também no ar com a novela‘Amor Amor’, da SIC, na qual interpreta o vilão Anselmo...
Foi fantástico participar na novela. Já terminei as gravações... Era um elenco muito bom. Eu caí ali de paraquedas, uma vez que já estavam a gravar há alguns meses. Tive de me adaptar às circunstâncias e fazer o meu trabalho o melhor possível. Trabalhei com algumas pessoas com quem nunca tinha contracenado e foi muito bom também.
Destaca alguém?
Eram todos muito bons. Houve maior incidência com a Luísa Cruz e com o Ricardo Pereira, mas foi pura coincidência.
E tem sido um projeto muito acarinhado pelo público. Qual o segredo?
Não faço ideia nenhuma, confesso. Mas deve ser pela história, pelos intérpretes, pela realização, tudo isso motiva os espectadores... Além disso, se calhar este universo dos artistas da música interessa às pessoas, nomeadamente a ficção que está associada às possíveis vidas de alguns dos intérpretes musicais.
Nas últimas semanas iniciou-se um debate sobre a forma como são escolhidos alguns atores para integrar o elenco das novelas. Alguns não têm formação. Como é que vê essa situação? Acho perfeitamente natural. Uma pessoa com 18 anos pode não ter formação nenhuma. Aliás, eu pergunto qual era a formação que o Raul Solnado tinha, e o José Viana tinha... Portanto, no conceito dessas pessoas que criticam, estes atores não poderiam representar na vida e estamos a falar de dois grandes atores. A formação é essencial, indispensável, mas há alturas da vida em que nós ainda não a temos e isso não quer dizer que não possamos fazer coisas.
Que outros projetos tem em mãos? Estou a fazer um filme, mas ainda não posso adiantar muito sobre ele.
Sente-se um privilegiado por poder trabalhar nestes tempos de crise? Absolutamente. Sinto-me um privilegiado por, numa altura tão difícil como a que atravessamos, ser solicitado e poder trabalhar. É magnífico.
Na sua opinião, perante a crise no setor da cultura motivada pela pandemia de
Covid-19, o que poderia ser feito para proteger mais os atores?
Para se proteger os atores e a cultura de uma maneira geral é necessário investimento nas pessoas e nas instituições, e que o Ministério da Cultura olhe de uma forma séria para estas pessoas que trabalham de uma forma incessante e não são remuneradas suficientemente.
Numa perspetiva mais pessoal, como foi o confinamento para si?
Salvo alguns dias em que tive mesmo que estar em casa, estive sempre a trabalhar. Praticamente não parei.
“SINTO-ME UM PRIVILEGIADO POR, NUMA ALTURA TÃO DIFÍCIL COMO ESTA, SER SOLICITADO E PODER TRABALHAR”