Correio da Manha - Boa Onda

Ainda há séries desconcert­antes que nos saciam

- Chá e bolos POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA `FLASH!' E `TV GUIA'

Oprimeiro comentário que li sobre ‘Baby Reindeer’ surgiu-me numa rede social qualquer - X, Instagram, já não sei detalhar. Sei, sim, o que dizia: que era, até agora, a série do ano. Fui ver. E assino em baixo.

Não é um produto fácil apesar de ser trend na Netflix e tema nas redes. Quem comenta gaba as interpreta­ções, fala de ser inspirada numa história real de stalking e que aquelas figuras existem de verdade. Só que, neste caso - e no meu ponto de vista - “o buraco é muito mais abaixo”. E é isso que faz dela especial. ‘Baby Reideer’ - bebé rena, ou renazinha, se quiséssemo­s traduzir não se limita a contar a história de uma mulher que persegue um homem de forma obsessiva. É, isso sim, uma introspeçã­o sobre o lado “negro” de alguém, os vícios e fantasias proibidas, o prazer e as suas

A SÉRIE QUESTIONA TUDO, INCLUINDO NÓS PRÓPRIOS, FOFINHAS RENAS DOMESTICAD­AS

consequênc­ias. É um tratado semiótico, uma viagem ao universo do conceito de erotismo e de moral de George Bataille aplicado à decadente sociedade britânica, em pleno século XXI, solitária e sem rumo. Parece deprimente? Só quando paramos de ver e ficamos a pensar “naquilo tudo”. Porque, na verdade a ação é narrada em tom de comédia non-sense, um misto do universo de Guy Richie com sabor a ‘Trainspott­ing’, como se aquelas personagen­s de Irvine Welsh tornadas reais por Danny Boyle continuass­em vivas, como se afinal nada tivesse mudado da década de 90 até hoje. Mas será que mudou? ‘Baby Reindeer’ questiona tudo, incluindo nós próprios, fofinhas renas amestradas pela sociedade. Custa, não é? Vejam a série e voltamos a falar.

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