O `EFEITO FUTRE'
A expressão não estava, até agora, registada ao ponto de merecer uma utilização em termos correntes, mas a situação que descreve há muito que clamava por ter uma individualização em termos de tratamento. O que é o ‘Efeito Futre’? Pois bem, o ‘Efeito Futre’ é aquele condicionalismo que se verifica quando alguém, seja uma pessoa ou uma organização, se depara com a situação de ter adquirido para si algo a que depois não dá utilização prática ao nível do investimento feito.
Quem nunca gastou uma fortuna numa peça de roupa ou num acessório de moda que depois acaba por não usar? Ou quem nunca ofereceu a uma criança um brinquedo que foi repetidamente pedido e vai acabar numa prateleira? Ou qual de nós não adquiriu um ‘gadget’ pelo mero prazer de o ter e depois nunca o utilizou (e não estou apenas a falar de bicicletas estáticas, entenda-se)? Ou ainda, e finalmente, quem nunca contratou um antigo craque do futebol para participar numa novela e fazer comentários e depois deixou de o chamar para exercer as funções?
São exemplos clássicos do ‘Efeito Futre’ aos quais recorro para falar da presença do futebol feminino na antena das nossas generalistas.
A RTP trata o futebol feminino como um produto de igual valor em relação ao futebol masculino e não me parece que o faça por mera exigência de quotas ou de serviço público mas sim por competência e inteligência de perceber o potencial do produto em causa. Os jogos merecem narrações e comentários em tudo semelhantes aos que a estação pública disponibiliza, por exemplo, para jogos da Seleção nacional masculina. A SIC tem uma abordagem
mais tímida. Claramente (re)conhece a tendência do crescente interesse no desporto feminino, porém não parece ainda acertar com o produto para fazer dos jogos um caso de sucesso. É um pouco como conhecer a praia, saber escolher a onda mas depois usar a prancha de surf errada: não existe, por exemplo, o investimento em recursos humanos que a RTP faz na cobertura dos jogos.
A TVI é um caso de ‘Efeito Futre’. Compra alguns dos melhores jogos de futebol feminino do calendário das competições europeias (como é o caso da Champions League feminina) e depois transmite muitos deles na TVI Ficção sem brilho, nem honra, nem glória. O futebol feminino é um fenómeno em expansão e os anunciantes serão os primeiros a dar o sinal de partida para uma corrida para a qual a RTP parece estar mais bem preparada do que a concorrência nas televisões generalistas.