“ESTOU APAIXONADO PELO FLAMENGO”
AMBIÇÃO → Assume o objetivo de ganhar tudo e afasta a pressão de 40 milhões de adeptos CARREIRA → Mudança radical após a saída da Arábia, com vontade de voltar a Portugal OFERTAS → Revela que o agente tinha propostas de vários clubes europeus PLANTEL → Técnico confirma interesse em Jonas e Jardel LÍNGUA → Espera adaptação fácil ao país
Correio Sport - Espera uma adaptação rápida ao Brasil? Jorge Jesus - Penso que vai ser fácil, pois tenho a vantagem de já conhecer o futebol brasileiro e também há a vantagem da comunicação, de se tratar da mesma língua. Penso que a minha adaptação vai ser mais fácil do que a adaptação da equipa às minha ideias, disso não tenho dúvidas.
- Esta é uma mudança radical na sua vida?
- Sim, o futebol muda com muita facilidade. Primeiro, nunca pensei em sair de Portugal, mas acabei por ir para um país pouco conhecido pelo seu futebol [Arábia Saudita]. Depois, pensei em regressar, mas tive de sair. Vim para o Brasil, que é o país do futebol. Apaixonei-me pelo convite, porque Flamengo é Flamengo, mesmo que o meu agente não tenha concordado com a minha decisão, porque tinha outros clubes europeus interessados em mim.
- O Chelsea era um desses clubes?
- Não quero falar em nomes, pois isso, só passa a ser verdade quando tens um presidente a convidar-te, como foi o caso do presidente do Flamengo.
Não hesitei e tomei a decisão pela minha cabeça.
- Mas o seu objetivo é voltar a Portugal?
- O meu objetivo é voltar sempre a Portugal. Se no ano passado dizia que voltava rapidamente, agora já não digo a mesma coisa. Não sei o que vai acontecer. A carreira de treinador é muito inconstante, não há certezas absolutas. O que sei é que estou apaixonado pelo projeto, pois o Flamengo pode dar-me a possibilidade de ganhar títulos que
eu nunca ganhei, como o Mundial de clubes e a Taça dos Libertadores. Este foi um dos motivos que me fizeram tomar a decisão, mesmo com o meu agente a dizer-me, todos os dias, que tinha uma grande equipa na Europa para mim.
- Sente-se pressionado por estar num clube com mais de 40 milhões de adeptos?
- Não me sinto pressionado por isso. A pressão do jogo é dentro do estádio, com 70 mil adeptos. Eu já estou habituado a isso em Portugal. Agora, fora do estádio, aí sim, a exigência é maior. Nos grandes clubes, não basta ganhar.
- Assumir que queria vencer tudo foi uma maneira de conquistar os adeptos ou acredita mesmo que é possível?
- Acredito, pois o Flamengo continua em todas as frentes. Tudo está em aberto.
- Consigo os jogadores do Flamengo vão ter de jogar o dobro?
- Os jogadores têm de jogar o dobro, senão é mau para eles e para mim. Temos de enquadrar e ajustar o plantel, ou o elenco, como se diz no Brasil, para jogarem o dobro (risos).
- Já está adaptar-se à língua... - Claro que na Arábia não aprendi a falar árabe, mas aprendi o essencial para comunicar com os meus jogadores. Aqui no Brasil é diferente e usam termos diferentes no futebol. Nós dizemos cantos, eles dizem escanteios. Sabem lá eles o que significa guarda-redes. Para eles é o goleiro que está na baliza (risos). Eu venho de fora, por isso, sou eu que tenho de me adaptar ao país, à cultura e à comunicação social.
- Como viu as críticas da imprensa brasileira quando se soube que vinha para o Flamengo?
- Os brasileiros não sabem muito do que se passa no futebol português e vice-versa. Em Portugal não há noção do que é o campeonato brasileiro. As pessoas não sabem da qualidade e da dificuldade em vencer um jogo. Eu arrisco-me a dizer que este é um dos campeonatos mais fortes do Mundo.
- Jonas e Jardel são jogadores a contratar?
- É verdade que o clube está à procura de um ponta de lança e de um central. São jogadores que me interessam, que podem interessar ao Flamengo, mas há outras possibilidades. - No Brasil fala-se muito em “pagar promessas”. O que estaria disposto a fazer se fosse campeão do Mundo?
- Eu distingo as coisas. Futebol é uma coisa, religião e crença são outras. Abordo esses assuntos com muito respeito.
- Fora de campo, como vai ser a sua vida aqui no Brasil?
- Igual, como em todo o lado. A minha vida é do treino para casa. A única coisa que difere é o facto de estar longe da minha família, dos meus amigos e das minha rotinas diárias. Custou-me ao princípio na Arábia, mas depois adaptei-me. Aqui não vou ter esse problema.
- A sua família vem viver consigo?
-Não, a minha família vai ficar em Portugal. O meu filho mais novo está a acabar de se formar.
- A insegurança no Brasil preocupa-o?
- Eu ainda não conheço bem essa realidade. Se calhar fala-se mais do que é. Não me preocupa muito, sabendo que tenho de estar atento a esses pormenores.
- Como é que tem visto a polémica no Brasil em torno do caso em que Neymar foi acusado de violação?
- Não é fácil, é um miúdo que tem acesso a tudo. Se houvesse alguém a acompanhá-lo, talvez ele não cometesse esses excessos, mas ele vai aprender com os erros e seguramente que vai ultrapassar esta fase, porque é um jogador extraordinário. Ele é um jovem com muito talento e pode suceder a Cristiano Ronaldo e a Messi quando eles terminarem a carreira.
- Portugal mereceu vencer a Liga das Nações?
- Sim. A Seleção ganhou bem e mereceu vencer. Já ninguém tem dúvidas de que Portugal tem uma das melhores seleções do Mundo. Temos jogadores jovens com enorme valor e potencial e, por isso, vai ser difícil parar a seleção portuguesa.
- Qual é marca que pretende deixar no Brasil?
- Vitórias. Espero que o Flamengo ganhe. Eles estão ansiosos, sonham com a Taça dos Libertadores e com a final do Mundial de clubes.n