“Sérgio Conceição com pouco faz muito”
“EM ESPANHA NÃO HÁ PONTAPÉ PARA A FRENTE”
Correio Sport - Quais são as suas perspetivas para esta temporada?
Hernâni - Apesar dos contratempos que estamos a viver, penso que o objetivo é o mesmo: tentar fazer a melhor época possível, visto que no último ano correu bastante bem, tanto dentro dos objetivos da equipa, como a nível pessoal. Ou seja, trabalhar para que as coisas possam correr melhor do que na época passada.
- A Liga espanhola é um campeonato muito diferente do português?
- É um campeonato substancialmente diferente, do meu ponto de vista. Tem mais equipas competitivas, isso faz com que o campeonato seja muito mais forte. Não há apenas três ou quatro equipas a lutar pelo título como acontece em Portugal. Há várias equipas que jogam muito bom futebol e tornam o campeonato muito mais competitivo, até ao fim. Todas as equipas querem jogar e alcançar a melhor classificação possível.
- Como foi a sua passagem pelo FC Porto?
- Posso dizer que foi uma aprendizagem muito grande. Foi uma experiência que, se calhar, eu não acreditaria muito que pudesse ter tido apesar de trabalhar todos os dias para isso. Só que as coisas aconteceram de uma forma
tão rápida que não acreditava que naquele momento aquilo poderia estar mesmo a acontecer, mas depois foi desfrutar ao máximo da experiência. Poder jogar com grandes jogadores, conhecer excelentes pessoas dentro do futebol. O FC Porto é uma instituição que me deu muito ao longo destes anos e que me abriu muitas portas no futebol. Claro que também tive a possibilidade e felicidade de poder ser campeão nacional. São coisas que se levam para a vida, que não se esquecem.
- Gostaria de ter passado mais épocas no FC Porto?
- Gostaria, mas também achei que era importante sair naquele momento. Queria dar continuidade ao meu trabalho e queria jogar com mais regularidade. Apesar de ser um clube com o qual já estava bastante identificado em tudo, até na cidade, achei
que era importante dar esse passo. Mas é, sem dúvida, um clube que fica sempre gravado na minha memória e no meu coração. E, sim, gostaria que tivesse tido a possibilidade de lá ter ficado mais tempo.
- Sérgio Conceição é um treinador exigente?
- Quem passa por um clube como o FC Porto tem de saber viver com esse tipo de exigência. Tanto na própria vida, como no trabalho. E o próprio Sérgio acaba por incutir isso nos jogadores e as pessoas, com o passar do tempo, vão percebendo o porquê de tanta exigência para poder jogar num clube como o FC Porto.
- Como foi a sua relação com Sérgio Conceição?
- Tínhamos - e temos - uma relação boa, até porque quando o Sérgio era treinador do Nantes, em França, já tínhamos, mais ou menos,
“O FC PORTO DEU-ME MUITO AO LONGO DESTES ANOS E ABRIU-ME MUITAS PORTAS”
“QUANDO AS PESSOAS SE DÃO BEM E O GRUPO É FORTE, CONTAGIA-SE TODA A GENTE”
“NO BENFICA HOUVE MUITAS ENTRADAS DE BONS JOGADORES. MAIS TARDE OU MAIS CEDO VÃO TRAZER A QUALIDADE AO DE CIMA”
“OS JOGADORES TÊM DE CHEGAR E PROVAR NO IMEDIATO, SOBRETUDO COM VALORES ELEVADOS. AS PESSOAS NÃO ENTENDEM QUE TUDO
É UM PROCESSO”
falado um pouco e, depois, calhou estar emprestado nessa altura ao Vitória de Guimarães [foi cedido aos vimaranenses em 2016/17, quando o técnico estava na equipa francesa].
- A boa relação continuou no FC Porto?
- Calhou eu regressar ao FC Porto naquele ano [época 2017/18] e ele também, vindo do Nantes. Acabámos por nos encontrar e a verdade é que sempre tivemos uma relação aberta e tranquila.
- No ano em que foi campeão qual foi o ‘segredo’?
- Nessa época de 2017/2018, basicamente, o Sérgio Conceição recrutou muitos jogadores que estavam emprestados e daí conseguiu fazer uma equipa muito boa. Tínhamos um balneário excelente, humanamente era mesmo... Sentíamo-nos muito juntos, muito próximos uns dos outros. Apesar de não termos jogado tantos anos juntos, como, se calhar, os jogadores do Benfica teriam feito em anos anteriores. Mas foi como disse: o Sérgio Conceição é capaz de com pouco fazer muito e tem provado ao longo destes anos que por lá está que é sempre possível e que, se calhar, nem sempre é preciso investir bastante para se conseguir ter esse fim [conquistar a
Liga portuguesa].
- União versus contratações de luxo?
- Por vezes sim. Quando as pessoas se dão bem e o grupo é forte, acaba por se contagiar toda a gente, toda a estrutura, e cria-se ali uma união que é um só. Foi isso que se passou connosco e os resultados depois ficaram à vista.
- Como é que vê este ano de contratações do Benfica?
- Posso dizer que fizeram muitas compras, houve muitas entradas de bons jogadores. Acredito que esses jogadores podem levar o seu tempo a adaptar-se ao clube, mas pela qualidade que têm acabarão por, mais tarde ou mais cedo, trazer essa qualidade ao de cima. Por isso, acredito que esses jogadores contratados não vão ter muitas dificuldades em adaptar-se ao clube e ao País.
A eliminação da Liga dos Campeões vai ter repercussões para o Benfica?
- Visto assim, poderá haver alguma repercussão, porque a exigência é grande e quando os jogadores vêm por valores um pouco altos, então, a exigência é a dobrar. Os jogadores têm de chegar e provar no imediato, porque as pessoas não entendem que tudo é um processo, principalmente quando se trata de valores elevados. Mas os jogadores vêm, têm de perceber o contexto em que estão, a grandeza do clube onde estão, e só assim é que poderão dar passos largos para poderem dar uma resposta positiva em campo.
- Acredita que ainda pode representar um clube de maiores dimensões?
- Acredito que sim. Os jogadores vivem muito do que trabalham e das oportunidades que surgem. Acredito que quando somos mais novos, e tendo qualidade, há sempre algo a melhorar todos os dias. À medida que vamos crescendo, teremos sempre coisas para aprender e para melhorar e eu não sou exceção. Acredito que, juntando o que não tinha antes ao que tenho agora, e conseguindo conciliar isso, considero que me vou tornando cada vez mais forte, um jogador com mais inteligência no meu próprio jogo. Conseguindo juntar tudo isso, terei bagagem para outros horizontes.n