FILIPE CÂNDIDO
“Grandes olhados como sonho”
REFERÊNCIAS → Treinador do Mafra, que ocupa a primeira posição da II Liga, identifica-se com Jesualdo Ferreira, Manuel Fernandes, Pedro Martins e Vítor Frade
Correio Sport - Este início de época, que coloca o Mafra no primeiro posto da II Liga, estava planeado?
-Filipe Cândido - Iniciámos a época com o pensamento, positivo, de que iríamos estar a trabalhar e a acreditar que era possível começar bem, ou seja, rapidamente a jogar um futebol que gostássemos de ver. Nesse sentido, sabíamos que esse futebol nos iria permitir ganhar o maior número de pontos possível. Por isso, para já, estamos satisfeitos. -Pode falar-se em candidatura à subida à Liga?
-Não, porque sabemos da realidade do próprio clube, das nossas dificuldades e do espaço que ocupamos nesta segunda Liga. Obviamente, vamos tentar o máximo de vitórias. É esse o nosso propósito, pensando sempre um jogo de cada vez. Para já, as coisas têm corrido muito bem, mas sabemos que a linha é muito ténue entre ganhar ou não ganhar. Temos essa realidade presente. -É difícil vencer nesta divisão?
-Temos de ter consciência da nossa realidade e das dificuldades para vencer jogos em Portugal, muito pela qualidade dos treinadores e das equipas. Temos a noção da realidade
do Mafra e nesse sentido temos a humildade suficiente para discutir o próximo jogo e tentar ganhar. É essa a nossa forma de estar. No final do último jogo com o Vizela (triunfo por 2-0 e liderança da II Liga), o presidente foi perentório: o objetivo é a manutenção. Agora, vamos discutir todos os jogos? Vamos.
–A II Liga é altamente competitiva?
-O nosso orçamento é dos mais baixos do campeonato. No entanto, sabemos que não é por esse facto que nos amedrontamos e que não vamos dividir os jogos. Os outros clubes podem ter um orçamento maior, mas, se calhar, não há uma disparidade tão grande entre as equipas e é isso que faz com que a competitividade seja muito grande e torne muito difícil ganhar jogos. Todas as equipas podem fazer pontos e todos podem não ganhar.
– Tornou-se treinador porquê?
-Enveredei pela carreira de treinador por ser uma paixão antiga, face ao meu gosto pelo treino e pelo jogo. Por isso, fui à procura de me formar em termos académicos, com licenciatura e com mestrado, obtendo diferentes cursos de treinador. Tenho o nível III e já me inscrevi para o nível IV. Por outro lado, decidi desafiar-me,
começando por baixo e com quem me deu a oportunidade, que foi o Sousense, no Campeonato de Portugal.
Quais são os seus objetivos?
-Assumi o desafio e comecei por um patamar mais abaixo para ir consolidando ideias: ter tempo e ganhar experiência, tudo ferramentas importantes para um treinador. Quis passar por todos os níveis competitivos, de forma consolidada. Evoluí degrau a degrau, sempre quando senti que era o momento certo para o fazer.
Quais são as suas metas?
-Nunca coloquei limites ou objetivos na minha carreira. Olho para cima para ter motivação no presente, no meu dia a dia. Digo isto porque se não ganhar no Mafra… escuso de olhar para cima, porque nesta profissão só interessa quem tem bons resultados. Não interessa quem é muito competente ou não. Não
penso assim, uma equipa tem de jogar bem para ganhar e, se jogar bem, está mais perto de vencer. - Ambiciona chegar a um dos clubes ‘grandes’? -Sinto que colocar essa fasquia só porque sim não é algo que me tire o sono, não é por aí que me guio. Acima de tudo, quero tirar o máximo de prazer daquilo que faço e é dessa forma que acordo todos os dias. Agora, olho para os ‘grandes’ como um sonho. Posso definir dessa forma, mas não tem necessariamente de ser assim, porque o futuro pode passar pelo estrangeiro. No entanto, o meu maior foco, neste momento, é vencer no Mafra. Sei que essa é a única forma de um dia sonhar com mais qualquer coisa.
Gostaria de treinar o Sporting?
-É
o meu clube de formação. Só guardo boas recordações. Entrei com sete anos e saí aos 17 para o Real Madrid. O meu sonho poderia passar por treinar essas equipas, mas confesso que o meu grande sonho é continuar a treinar. Não tem de ser necessariamente nessas equipas. Acredito que um dia irei chegar a outros níveis. Se serão esses? Não sei dizer. Apenas sei que vou lutar por chegar a um patamar superior. -Poderia ter ido mais longe como jogador?
– Estou muito bem resolvido com aquilo que foi a minha carreira. Há quem pense que poderia ter sido melhor jogador, mas fui aquilo que consegui ser. Lutei muito por ser sempre melhor. Consegui fazer a carreira que fiz, o que me permitiu ganhar experiência, que me pode ser útil no meu futuro. -Os treinadores do Benfica e FC Porto são referências para si?
– Esses treinadores são referências, obviamente, mas também porque estão num patamar de maior visibilidade. No entanto, as minhas referências, os treinadores com quem me identifico, são Jesualdo Ferreira, Manuel Fernandes, Pedro Martins e o professor Vítor Frade. Mais do que olhar para os ‘grandes’, são estes os treinadores que me marcam. Guio-me por outras referências, por aquelas que foram as minhas.n