JOSÉ MORAIS “O meu objetivo é treinar na 1.ª Liga portuguesa”
“ESTE É O PONTO MAIS ALTO DA MINHA CARREIRA”
Correio Sport - Acaba de conquistar a dobradinha pelo Jeonbuk FC, o que acontece pela primeira vez na história do clube. Este é o ponto alto da sua carreira como treinador?
José Morais - Se à dobradinha juntarmos o facto de este ter sido o segundo campeonato consecutivo, pode dizer-se que sim. Aliás, foi contra as melhores expectativas, tanto dos dirigentes como da massa adepta, que conseguimos ser bicampeões. Para mim foi, de facto, extraordinário ter ganhado logo no ano em que cheguei e repetir a vitória este ano, juntando a isso a Taça da Coreia. Estou, como se compreenderá, muito feliz. - Muita gente pergunta como é que um português foi parar à liderança de uma equipa da Coreia. Como foi? - Eu estava nos ucranianos do Karpaty Lviv, uma equipa do meio da tabela do campeonato ucraniano, e as coisas estavam a correr bem. Um empresário que tem contactos na Coreia do Sul ligou-me a dar conta do interesse do Jeonbuk e eu prontifiquei-me a falar com eles. Gostei do projeto e da proposta e foi assim que, no início de 2019, rumei para este país longínquo.
- O que encontrou correspondeu às expectativas?
- Superou as expectativas. Trata-se, de facto, de um clube de topo, quer em termos de infraestruturas, quer organização administrativa e qualidade do plantel. É um clube ligado à Hyundai e, de alguma forma, o rigor de gestão da empresa foi aplicado no clube. De maneira que se trata de um clube com uma gestão profissional e eficaz, com todos os pagamentos em dia e condições de trabalho de primeira linha. É claro que há áreas em que eles estão ainda a fazer caminho, como o marketing ou o aproveitamento das redes sociais, ou mesmo a formação que, sendo já uma realidade, está ainda a trilhar o seu percurso.
- A Coreia do Sul tem um campeonato competitivo?
- Muito competitivo e muito difícil. Tem uma boa meia dúzia de equipas que são, à partida, candidatas ao título. Além disso, como sabe, a Coreia do Sul é a região da Ásia com o futebol mais desenvolvido e isso verifica-se nas prestações da sua seleção. Os jogadores coreanos têm muita qualidade, são tecnicamente evoluídos, são rápidos na decisão e na execução e, além de tudo isso, são extremamente focados e trabalhadores.
- Significa que, do ponto de vista desportivo, esta experiência foi enriquecedora…
- Considero mesmo que foi das mais frutíferas da minha carreira. Foram dois anos de grande empenho, de muito trabalho e dedicação, mas com resultados muito positivos e, por isso, dois anos de grande enriquecimento e realização profissional.
- Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou?
- A barreira linguística foi a maior de todas. Por muito que haja tradutores, que se domine o inglês, o facto de, entre eles, falarem coreano, complica imenso. Devo dizer-lhe que, apesar dos bons resultados, as coisas nem sempre foram fáceis. Nos primeiros tempos, sobretudo, foi necessário criar muitos esquemas e ultrapassar vários obstáculos, o que é natural. - Tem contrato até dezembro. Tenciona renovar?
- O clube manifestou interesse em que eu ficasse, mas eu já lhes disse que tenho outros planos e, como tal, não serei o treinador do Jeonbuk na próxima temporada.
- Já está decidido o seu futuro próximo?
- Não, ainda não tenho nada concretizado. Tenho algumas
coisas em análise, que vou estudar, mas, para já, nada de concreto. - Mas o seu objetivo passa pelo regresso a Portugal? - Não lhe escondo que o meu sonho é treinar um clube da 1ª Liga portuguesa, mas, para já, o que tenciono é regressar à Europa e aproximar-me o mais possível da minha família. É que, desse ponto de vista, estes dois anos foram extremamente complicados. Já é difícil pela distância e mais difícil se tornou ainda pelas contingências impostas pela Covid-19, com a necessidade de confinamentos e quarentenas. - Foi a questão da família que ditou o fim dessa sua aventura? - Foi, sem dúvida. Nem sempre a carreira é o mais importante da vida. - Sente-se preparado para assumir uma equipa da 1ª Liga portuguesa? - Sinto. Na verdade, penso que com toda a experiência que adquiri, quer na equipa do José Mourinho no Real Madrid, no Inter de Milão ou no Chelsea, quer como treinador principal em campeonatos como o da Grécia, da Suécia, da Arábia, da Tunísia, na Ucrânia e agora da Coreia do Sul, estarei capacitado para realizar um trabalho positivo em Portugal. - Costuma acompanhar o campeonato português?
- Sempre. Ainda no passado domingo me levantei às cinco da manhã para ver o Benfica-Sp. Braga. - Que perspetiva, ao fim de sete jornadas?
- Para já é muito cedo, mas creio que vamos ter quatro equipas a lutar pelo título e pelos três lugares que dão acesso ou possibilidade de acesso à Champions: Sporting, Benfica, Porto e Sp. Braga. Depois, pela Liga Europa, vão lutar equipas como o Rio Ave, o V. Guimarães e o Famalicão, que ainda procura a melhor forma.n