Pão, queijo, queijo, pão
Talvez por ser um mundo de paixões assolapadas – se assim não fosse não arrastava multidões –, o futebol contém, na sua natureza, a capacidade de nos fazer mudar de opinião a cada segundo. A nós, simples adeptos. Mas também aos jornalistas, que analisam e julgam, e aos dirigentes dos clubes de futebol, que tudo decidem e se arrependem ou não, são consentidas as premissas práticas das almas volúveis. Não pelo desejo absurdo de mudar as crenças do dia para a noite mas, simplesmente, porque o velho primado de António Pimenta Machado – “no futebol o que hoje é mentira amanhã é verdade” – seria, sem qualquer espécie de dúvida, o Artigo 1º da Constituição da República da Bola Nacional se a bola nacional viesse a ter um dia uma coisa dessas. E já faltou mais. Não se pense que esta volubilidade dos pontos de vista não afeta também os próprios artistas, os jogadores. Afeta, pois. Por exemplo, os jogadores do Sporting que foram atacados em Alcochete mudaram mil vezes de ideias naquele esgotar do tempo que lhes permitia rescindir ou não rescindir os seus contratos. E o que dizer de Marega, o possante avançado do FC Porto, que só nesta semana tão depressa se recusou a treinar com os companheiros, cheio de vontade de rumar a Inglaterra como logo mudou de opinião reafirmando que nunca se recusou a treinar e que não tem apetência de monta pelo futebol inglês? E Jonas? Sim, o melhor jogador do campeonato português desde o instante em que por cá pousou, sempre quer ir para as Arábias por ter ficado desgostoso com o ordenado atribuído a Ferreyra ou, antes pelo contrário, nunca lhe passou pela cabeça sair da Luz e pouco lhe importa o que os outros auferem? Dúvidas e mais dúvidas, insinuações contraditórias, constantes mudanças de humor, justificações atabalhoadas de uns e de outros, é disto que se alimenta o dia a dia do nosso futebol e os programas notívagos das nossas estações de televisão. Por isso mesmo releve-se a singularidade uma alma para quem estas meias-tintas não têm cabimento. Não há indefinições nem matéria para interpretações da retórica do presidente destituído do Sporting que,
O FUTEBOL CONTÉM, NA SUA NATUREZA, A CAPACIDADE DE NOS FAZER MUDAR DE OPINIÃO
A CADA
só nesta última semana, disse em entrevista a Cristina Ferreira que, sim, sempre adorou palco e holofotes – “se ia a uma festa gostava de ser o centro das atenções, porque o era naturalmente” – e numa outra entrevista ao ‘Público’ logo se desmentiu com frontalidade – “até parece que sou um tipo que adora ir à televisão, que adora aparecer, que adora ser o centro das atenções”. É assim mesmo: pão, pão, queijo, queijo. Ou, melhor: pão, queijo, queijo, pão.