Falhou? Não falhou?
É NECESSÁRIO
REINVENTAR
A PROTEÇÃO CIVIL EM PORTUGAL E NA EUROPA
Aproteção civil falhou ou não em Monchique? Revisitando Wittgenstein, teremos de esclarecer o significado da pergunta. Se o objetivo era evitar a perda de vidas e a reedição do drama de 2017, com 116 mortos, não falhou. Se, para além deste objetivo prioritário, se pretendia evitar que houvesse feridos, casas destruídas e uma vasta área ardida, a resposta é negativa.
É prudente evitar as perguntas dicotómicas. A proteção civil falhou e não falhou em Monchique. Objetivamente terá falhado, porque não conseguiu dominar o fogo em sete dias nem evitar os quase 30 000 hectares de área ardida - com 41 feridos, dezenas de casas destruídas e centenas de desalojados. Mas conseguiu evitar o dano irreparável da perda de vidas humanas.
Houve um esforço acrescido em relação a 2017. Devemos reconhecer que houve mais limpeza das matas, reforço dos meios materiais e humanos e uma preocupação (acertadamente) obsessiva com a proteção de vidas. A atuação por vezes incompreendida das forças de segurança e dos agentes de proteção civil foi justificada pela Constituição e pela Lei de Segurança Interna.
Foram cometidos erros? Talvez se tenha desvalorizado a primeira ignição, devesse ter sido acionado o plano distrital de proteção civil ou pudessem ter sido usados mais produtos retardantes. Mas depois dos primeiros dois dias, tornou-se quase impossível dominar o fogo, apesar da “profusão” de meios: 1400 homens e mulheres, 450 viaturas e mais de uma dezena de aeronaves.
Porém, a lição a extrair de Monchique é outra. Para além da prevenção estrutural (repovoamento do interior, revitalização da agricultura e da pecuária e ordenamento da floresta), que é desafio de várias gerações, é necessário reinventar a proteção civil em Portugal e na Europa. Caso contrário, persistirá a desproporção entre os desafios e a capacidade de resposta.