Aljezur, que lá vou eu
APlataforma Algarve Livre de Petróleo interpôs uma providência cautelar no Tribunal de Loulé e conseguiu travar o furo que ia ser feito ao largo de Aljezur. É uma grande vitória. Uma organização com capacidade para: i) deslocar-se ao Algarve; ii) comunicar entre si e com os jornais; iii) aceder à Internet; iv) uma série de outras coisas imprescindíveis para levar a cabo esta empreitada; tudo isto sem recorrer ao petróleo, merece aplausos. Só a caminhada até Loulé, por estradas não alcatroadas e com sapatos sem sola de borracha, é heróica. É como a Plataforma Minho Livre de Vacinas ter as crianças mais saudáveis, ou a Plataforma baixo Alentejo Livre de Frigoríficos ter as minis mais frescas.
A não ser, claro, que o nome completo seja ‘Plataforma Algarve Livre de Petróleo! O Resto Do Mundo Não, Obviamente. Somos Fanáticos, Mas Não Somos Parvos. Precisamos do Petróleo e Seus Derivados Para Viver Com Condições Mínimas’.
Percebo a vontade de tomar estas medidas radicais. Recentemente, descobriu-se que o colapso da Civilização
Maia se deveu a grandes secas nos séculos IX e X. É natural que, com o aumento das temperaturas desde o séc. XIX, a nossa civilização receie acabar como a dos Maias. Assusta, pensar que, algures no Iucatão, possa ter havido uma conversa trágica como esta:
– Ó Grande Jaguar T’ucha’an K’in B’alam, trago-te más notícias! A seca di- zimou outra vez as colheitas. Estamos a ficar sem comida. Continuamos a fazer sacrifícios humanos em honra do deus da chuva, Chaahk, mas começamos a ficar demasiado fracos para subir à pirâmide e atirar as vítimas lá de cima.
– Nada temas, fiel Qoltec D’ichot. O nosso sacerdote Toltecaltuc esteve uma semana a fazer ayahuasca e viu o futuro. Lá a temperatura também aumentou, mas arranjaram uma solução. Só temos que replicá-la.
– E qual é a solução, ó Grande Jaguar?
– É reduzirmos radicalmente o consumo de combustíveis fósseis. Temos de deixar de andar de automóvel e de usar electrodomésticos. No fundo, deixar de emitir CO2 para a atmosfera. Seja lá o que for CO2. E atmosfera, já agora.
– Mas, Grande Jaguar, nós não usamos nada disso. Somos uma civilização pré-colombiana. Nem sequer andamos a cavalo, quanto mais de automóvel. Damos uns toques de matemática e astronomia, inventámos um tipo de escrita razoavelzinho, mas estamos longe dessas tecnologias.
– Então porque é que temos secas, quando há 100 anos chovia imenso? No futuro descobriram que alterações climáticas dessas acontecem por causa do petróleo.
– Pois, mas nós não usamos petróleo. A seca deve ter origem noutro sítio.
– Como assim, Qoltec D’ichot? Cheira–me que estás a soldo das grandes petrolíferas, pá.
– O que são petrolíferas, Grande Jaguar? – Se já tivéssemos inventado o elevador, subia contigo e atirava-te da pirâmide abaixo.
SOMOS FANÁTICOS, MAS NÃO SOMOS PARVOS. PRECISAMOS DO PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS