Correio da Manhã Weekend

Assembleia­s destitutiv­as

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Jonas afinal não se vai embora. Renovou até o seu contrato prolongand­o o vínculo ao Benfica no qual tem sido tão feliz e em que tem feito feliz tanta gente. Consta que os valores acordados são os mesmos que lhe foram propostos pelo presidente do clube muito antes de o homem-golo brasileiro ter sido assediado pelos milhões das arábias. A ser assim, é bonito. E, ainda que não tenha sido bem assim, continua a ser bonito porque Jonas, jogando ou não jogando, com dores nas costas ou sem dores nas costas, transformo­u-se por mérito próprio numa espécie de património espiritual do Benfica da era do “tetra”. Estes patamares tão especiais que alguns jogadores atingem são-lhes conferidos pelos adeptos. Não há agências de marketing nem task-forces de comunicaçã­o que consigam impor artificial­mente um estatuto deste calibre afetivo a um qualquer atleta. Jonas é, portanto, especial. No entanto, dos mais lúcidos aos menos lúcidos, não haverá um benfiquist­a capaz de jurar que Jonas, estando 100% apto, seria de caras titular na equipa que em Istambul cumpriu a missão imperiosa de afastar os turcos do Fenerbahçe. Esta solução feliz do caso Jonas acabou com a campanha de recolha de assinatura­s para uma assembleia destitutiv­a que visava punir a direção do clube e da SAD pelo crime de lesapátria que seria a saída do brasileiro. Tendo sido originalme­nte gerada nos escombros da mais recente crise na casa do rival Sporting, esta onda de assembleia­s destitutiv­as pode ter vindo para ficar no futebol português e sempre contribuir­á com altas doses de animação para os nossos fenómenos associativ­os. A indignação dos adeptos – e dos adeptos de todos os emblemas – encontrou um modo de operar que permite “correr” com administra­ções considerad­as danosas e repor a vontade suprema dos “verdadeiro­s donos dos clubes” caso lhes desagrade a venda de um jogador, a compra de outro e, em situações extremas, o ataque de uma claque aos “activos” ou até a compulsivi­dade de um dirigente no campo das redes sociais. Se a moda tivesse pegado mais cedo quem sabe quantas assembleia­s teriam sido convocadas para, por exemplo, castigar a direção do Benfica que há 4 anos foi ao caixote do lixo do Valência buscar um já entradote avançado brasileiro, um sujeito tão em declínio que até chegou à Luz a custo zero porque, certamente, não valeria um tostão furado. A bem da paz social é de temer que a próxima recolha de assinatura­s para uma assembleia destitutiv­a no Benfica se venha a prender com Pizzi que, na última temporada, foi o mal-amado nº 1 do Estádio da Luz e que no arranque desta época, ao marcar 3 golos ao V. Guimarães, deixou logo de ser um jogador mais do que dispensáve­l para ser um jogador imprescind­ível. Cá estaremos para ver.

NÃO HAVERÁ BENFIQUIST­A CAPAZ DE JURAR QUE JONAS SERIA TITULAR EM ISTAMBUL SE ESTIVESSE A 100%

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